segunda-feira, 15 de outubro de 2012

The Future (Miranda July, 2011)


Para uns, o termo cinema independente está relacionado a filmes realizados sem o apoio de grandes estúdios, sujeitos a uma contenção financeira que apura o sentido de improviso na sua produção, mas libertos de compromissos das mais variadas índoles e por isso com uma visão intacta. Para outros, parece ter adquirido o significado exíguo da soma de tiques e posturas, músicas desconhecidas e piadas secas, tendo mais a ver com estilo do que com empreendedorismo. Talvez o primeiro tenha surgido com as necessidades e restrições enfrentadas pelo segundo, mas numa altura em que alguém como Francis Ford Coppola passou a trabalhar por conta própria ou alguém como David Gordon Green fez o caminho inverso, o termo ter-se-á tornado algo incongruente.

Seja como for, The Future preenche requisitos em ambas as facetas. O primeiro filme de Miranda July, Me And You And Everyone We Know teve um sucesso residual, suficiente para reclamar atenção sobre a esposa de Mike Mills, que mesmo assim demorou a dar seguimento à sua carreira, surgindo agora com um orçamento metade americano, metade alemão, 6 anos depois. Deduzo portanto que tenha matutado, pensado, visto e revisto as suas ideias para este trabalho durante muito tempo, o que consegue ser ainda mais deprimente do que o filme em si. É que isto não tem ponta por onde se lhe pegue. Há um casal de mentecaptos com os impedimentos de fala característicos do movimento mumblecore que decide adoptar um gato abandonado e doente recolhido por uma instituição, processo que traz consigo uma hiperbólica percepção da efemeridade da juventude e uma deslocada noção de que a vida de ambos acaba por passarem a ter outro ser vivo dependente deles.

Contado parece uma anedota, visto é inacreditável, porque estas personagens tomam o assunto a sério e decidem mudar radicalmente. Custa-me a engolir o tipo de diálogos que tentam mascarar frases feitas com calão, simplificações babocas ou embaraço tergiversante para parecerem de uma originalidade refrescante, como "it's a drag but it's also amazing" para descrever a experiência da gravidez, mas aqui abundam, quase tanto como os tons pastel nas roupas e nos cenários, talvez um reflexo de tanta indolência (estou a tentar fazer um trocadilho com a palavra pastelão). Quando alguém fala assim fica no ar um miasma de falsidade a envolver a noção de suposta profundidade sobre amor e relacionamentos, que impera especialmente quando a histórica começa a entrar em modo Eternal Sunshine Of The Spotless Mind e a tomar contornos surrealistas.

Só que, ausentes as ideias de Charlie Kaufman e o seu jeito ligeiro de navegar instintivamente pelo subconsciente das personagens para chegar ao cerne dos seus conflitos emocionais, ficam apenas sequências peculiares porque sim, artifícios sem sentido. Que se pode dizer de um homem que fala com a lua e consegue parar o tempo sem qualquer explicação para tal acontecer ou de uma mulher que define como objectivo dançar pateticamente durante 30 dias para uma webcam e que trai o namorado leviana e conscientemente? Deveria achar graça a isto? Não consigo, terei achado engraçado nos primeiros minutos, mas aborrecido a longo prazo, provando que mais vale ter graça do que ser engraçado. Apeteceu-me acabar com um chavão.

2/10

3 comentários:

  1. Eu gostei do "Me and You and Everyone We Know" por isso até estou curioso em espreitar este, mas 2 em 10 é uma nota mesmo muito má lol.

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  2. Concordo com esta nota, foi duro ter de assistir o filme até ao seu final. E sinceramente esperava mais visto que achei alguma piada ao seu anterior trabalho.

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