quinta-feira, 25 de outubro de 2012

The Hill (Sidney Lumet, 1965)


Se Sidney Lumet é menos falado que outros compatriotas, não é nem pela pouca quantidade de obras nem pela pouca qualidade das mesmas. De cada vez que me aventuro a descobrir algo seu, fico sempre com a sensação de que o realizador americano nunca obteve o reconhecimento que merecia enquanto foi vivo, porque a consistência era o seu nome do meio e The Hill é uma das muitas provas disso.

O fio condutor entre este, 12 Angry Men, Dog Day Afternoon ou The Verdict é a procura de dignidade, uma constante preocupação com os atentados, provocados ou imotivados, à moralidade das personagens e a forma como elas reagem a isso, estando algumas em conflito interno por terem consciência das suas más decisões e outras em dúvida sobre se devem encetar um combate contra as injustiças que se abatem ou comer e calar, por regra escolhendo a primeira.

Sean Connery é um sargento inglês durante a Segunda Guerra Mundial, que tomou uma decisão em consciência contra os seus superiores e foi recambiado para um campo de detenção do seu próprio exército, no deserto líbio. Retirar do activo centenas de soldados durante o maior conflito da história é paradoxal, tal como ver prisioneiros militares serem vigiados e punidos por irmãos de armas. "We're all doing time - even the screws."

É um mundo à parte, cuja existência é justificada com o objectivo de recuperar o espírito militar dos cobardes e desordeiros, onde as práticas se assemelham a uma lavagem cerebral por esgotamento, sendo o principal exercício a manutenção e escalada de um grande monte de areia, a alegoria perfeita para a absurdidade do local. Num plano-sequência inicial de cortar a respiração, a lentidão da grua da câmara revela o ambiente de aridez e a morosidade da passagem do tempo nestas condições, afastando-se até chegar ao exterior, um movimento que acaba por não ser repetido pelos protagonistas.

Lá dentro, Joe Roberts é atormentado pelo staff, mais concretamente pelo sargento Williams, um novato com poder a mais, cuja inexperiência e prepotência levam à morte de um companheiro de cela do primeiro. O director é mais acessível, mas igualmente manipulador, racista e desligado da realidade. À medida que a crueldade das tarefas designadas a Roberts aumenta, mais facilmente se descobrem fraquezas e hipocrisias.

O retrato do sistema é vívido e feito de dentro, como em Serpico, mas ainda mais intenso. Al Pacino e Sean Connery são homens que eu não me atreveria a levar aos limites. Já agora, este é o melhor papel da carreira do escocês. O suor pinga de todos os poros, as lâmpadas acesas no cárcere à noite dão tonturas, o calor é sufocante, crédito da genial fotografia a preto-e-branco. Com um filme tão portentoso como este, como se pode esquecer Sidney Lumet? Impossível.

9/10

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