Se Sidney Lumet é menos falado que outros compatriotas, não é nem pela
pouca quantidade de obras nem pela pouca qualidade das mesmas. De cada vez que
me aventuro a descobrir algo seu, fico sempre com a sensação de que o
realizador americano nunca obteve o reconhecimento que merecia enquanto foi
vivo, porque a consistência era o seu nome do meio e The Hill é uma das muitas
provas disso.
O fio condutor entre este, 12 Angry Men, Dog Day Afternoon ou The Verdict é
a procura de dignidade, uma constante preocupação com os atentados, provocados
ou imotivados, à moralidade das personagens e a forma como elas reagem a isso,
estando algumas em conflito interno por terem consciência das suas más decisões
e outras em dúvida sobre se devem encetar um combate contra as injustiças que se
abatem ou comer e calar, por regra escolhendo a primeira.
Sean Connery é um sargento inglês durante a Segunda Guerra Mundial, que
tomou uma decisão em consciência contra os seus superiores e foi recambiado
para um campo de detenção do seu próprio exército, no deserto líbio. Retirar do
activo centenas de soldados durante o maior conflito da história é paradoxal,
tal como ver prisioneiros militares serem vigiados e punidos por irmãos de
armas. "We're all doing time - even the screws."
É um mundo à parte, cuja existência é justificada com o objectivo de
recuperar o espírito militar dos cobardes e desordeiros, onde as práticas se
assemelham a uma lavagem cerebral por esgotamento, sendo o principal exercício
a manutenção e escalada de um grande monte de areia, a alegoria perfeita para a
absurdidade do local. Num plano-sequência inicial de cortar a respiração, a
lentidão da grua da câmara revela o ambiente de aridez e a morosidade da
passagem do tempo nestas condições, afastando-se até chegar ao exterior, um movimento
que acaba por não ser repetido pelos protagonistas.
Lá dentro, Joe Roberts é atormentado pelo staff, mais concretamente pelo
sargento Williams, um novato com poder a mais, cuja inexperiência e prepotência
levam à morte de um companheiro de cela do primeiro. O director é mais
acessível, mas igualmente manipulador, racista e desligado da realidade. À
medida que a crueldade das tarefas designadas a Roberts aumenta, mais
facilmente se descobrem fraquezas e hipocrisias.
O retrato do sistema é vívido e feito de dentro, como em Serpico, mas ainda
mais intenso. Al Pacino e Sean Connery são homens que eu não me atreveria a
levar aos limites. Já agora, este é o melhor papel da carreira do escocês. O
suor pinga de todos os poros, as lâmpadas acesas no cárcere à noite dão
tonturas, o calor é sufocante, crédito da genial fotografia a preto-e-branco. Com
um filme tão portentoso como este, como se pode esquecer Sidney Lumet?
Impossível.
9/10
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