A criação do Parque Nacional do Xingu, no estado de Mato
Grosso, foi precursora na defesa dos índios da América do Sul. Ao longo da sua
vida, os três irmãos Villas-Bôas encabeçaram uma mudança de mentalidades no
sentido de responsabilizar o estado pela criação e manutenção de condições que
permitissem às populações nativas do Brasil evoluírem ao seu próprio ritmo, no
fundo viverem como se o país nunca tivesse sido colonizado, preservando assim a
essência do mesmo, para além da fauna e flora única das regiões.
Ao ingressarem na expedição Roncador-Xingu, cujo objectivo
era fazer um reconhecimento das zonas a branco nos mapas da altura, Cláudio e
Leonardo rapidamente entram em contacto amigável com tribos locais, levam
algumas a voar de avião, estabelecem postos e inadvertidamente espalham o vírus
da gripe, à altura desconhecido por ali. Consequências do progresso. Isso,
juntamente com os relatos na primeira pessoa de escravização e assassinato de índios
empregados como seringueiros por brancos, parece tornar óbvia a necessidade de
segregar estes dois mundos.
Com a ajuda de Orlando, o mais velho, que oferece competência
nas questões burocráticas e na disseminação de informação através da imprensa, a
ideia da reserva vai ganhando forma, tornando-se realidade com relativa
facilidade em 1958, dado o aval do presidente Jânio Quadros, apesar de alguma
resistência inicial do governo e do exército. Contudo, o período mais
conturbado desta história ainda estaria para vir: o golpe de estado de 1964
traz políticas agrícolas e estradas que ameaçam a sobrevivência do parque,
Leonardo engravida uma índia e Cláudio torna-se instável.
Falta a Xingu alguma força na primeira hora, a evolução de
uma busca por aventura para a descoberta de uma causa não é totalmente
convincente, o argumento ameaça dar, com algumas cenas curtas em São Paulo, contexto
político, mas acaba por o fazer de forma muito superficial e o isolamento
progressivo de Cláudio é explorado apressadamente, faltando sempre, por uma
razão ou outra, carga dramática que eleve o filme a outro patamar. A beleza da
Amazónia é inegável, ainda que Cao Hamburger não seja propriamente Roland
Joffé. Acima de tudo, fica a visão e a mensagem de tolerância dos irmãos.
6/10
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