segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Xingu (Cao Hamburger, 2012)

A criação do Parque Nacional do Xingu, no estado de Mato Grosso, foi precursora na defesa dos índios da América do Sul. Ao longo da sua vida, os três irmãos Villas-Bôas encabeçaram uma mudança de mentalidades no sentido de responsabilizar o estado pela criação e manutenção de condições que permitissem às populações nativas do Brasil evoluírem ao seu próprio ritmo, no fundo viverem como se o país nunca tivesse sido colonizado, preservando assim a essência do mesmo, para além da fauna e flora única das regiões.

Ao ingressarem na expedição Roncador-Xingu, cujo objectivo era fazer um reconhecimento das zonas a branco nos mapas da altura, Cláudio e Leonardo rapidamente entram em contacto amigável com tribos locais, levam algumas a voar de avião, estabelecem postos e inadvertidamente espalham o vírus da gripe, à altura desconhecido por ali. Consequências do progresso. Isso, juntamente com os relatos na primeira pessoa de escravização e assassinato de índios empregados como seringueiros por brancos, parece tornar óbvia a necessidade de segregar estes dois mundos.

Com a ajuda de Orlando, o mais velho, que oferece competência nas questões burocráticas e na disseminação de informação através da imprensa, a ideia da reserva vai ganhando forma, tornando-se realidade com relativa facilidade em 1958, dado o aval do presidente Jânio Quadros, apesar de alguma resistência inicial do governo e do exército. Contudo, o período mais conturbado desta história ainda estaria para vir: o golpe de estado de 1964 traz políticas agrícolas e estradas que ameaçam a sobrevivência do parque, Leonardo engravida uma índia e Cláudio torna-se instável.

Falta a Xingu alguma força na primeira hora, a evolução de uma busca por aventura para a descoberta de uma causa não é totalmente convincente, o argumento ameaça dar, com algumas cenas curtas em São Paulo, contexto político, mas acaba por o fazer de forma muito superficial e o isolamento progressivo de Cláudio é explorado apressadamente, faltando sempre, por uma razão ou outra, carga dramática que eleve o filme a outro patamar. A beleza da Amazónia é inegável, ainda que Cao Hamburger não seja propriamente Roland Joffé. Acima de tudo, fica a visão e a mensagem de tolerância dos irmãos.

6/10

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