quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

The Lego Movie (Phil Lord, Christopher Miller, 2014)

Tenho no sótão da minha casa dezenas de caixas dos mais variados Lego (vamos já esclarecer aqui um ponto, estes tijolos de plástico não têm plural, da mesma forma que lápis também não tem), desde casas, a castelos, a submarinos, a baldes com montes de peças para usar aleatoriamente. Era um grande fã em criança e acredito que isso me tenha aproximado desde muito cedo do fascínio pela construção que influenciaria a minha escolha ao entrar no ensino superior, levando-me à Engenharia Civil.

Pondo de lado a minha euforia infantil (devidamente reprimida, para não destoar da reputação de crítico isento que de certeza me atribuem além fronteiras) por finalmente alguém ter conseguido levar ao grande ecrã um filme que respeita a dinâmica destes brinquedos, afinal que trapalhada de história poderia ter sido inventada? Não pude deixar de recear o pior depois de uma cena inicial confusa sobre uma super-arma a ser roubada dum feiticeiro, que recita uma profecia sobre um herói que evitará desgraças futuras.

Corte para Emmet, um banal boneco de cabeça amarela e mãos arredondadas, que trabalha nas obras e segue as instruções de tudo, tão desejoso de se inserir numa sociedade onde cada parte encaixa noutras na perfeição que não se vislumbra nele um pingo de personalidade. Pode ele ser o especial de corrida que vai salvar o(s) mundo(s) Lego do seu próprio presidente, obcecado com a ordem ao ponto de estar prestes a largar quantidades descomunais de cola para nada voltar a sair do sítio?

Inesperadamente unido ao único objecto que pode travar este maléfico plano, a chamada peça de resistência (o belo do trocadilho com “pièce de résistance”), um grupo dissidente de elite, os Master Builders, que defendem a liberdade criativa, tem mesmo de depositar as suas esperanças em Emmet, por força das circunstâncias, apesar das inúmeras reticências. Ironicamente, é a sua visão limitada que os vai permitir entrar despercebidos no covil do presidente. Seguir as regras também tem vantagens.

Tal como em cada conjunto Lego por montar, os criadores do filme trazem muitos elementos para cima da mesa e vão conseguindo juntá-los das formas mais inesperadas. A acção convoca personagens improváveis como o Batman ou Chewbacca, ganha força com as vozes de Liam Neeson ou Morgan Freeman, e percorre vários cenários, dos quais o mais surpreendente demora a ser revelado e traz uma base emocional que dá outro significado a todos os pormenores da história. Fica a convicção de que os Lego são para todas as idades.

8/10

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