sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

The Theory Of Everything (James Marsh, 2014)

Nunca mais será possível ver qualquer filme em que o protagonista sofre com algum tipo de incapacidade motora ou mental sem pensar num diálogo específico de Tropic Thunder entre as personagens de Ben Stiller e Robert Downey Jr. no qual o segundo revela ao primeiro uma lei básica de Hollywood: “never go full retard”. Por exemplo, Dustin Hoffman em Rain Man parece atrasado, mas é autista, conseguindo contar cartas e sacar dinheiro num casino. Óscar no papo. Tom Hanks em Forrest Gump é lento, contudo ganha competições de ping pong e torna-se num herói de guerra. Óscar instantâneo. Sean Penn em I Am Sam esforça-se imenso, porém entrou em modo full retard. Mãos vazias.

A ideia tem a sua razão de ser, há que admitir. A sorte está do lado de Eddie Redmayne no que diz respeito a prémios individuais, pois com o papel de Stephen Hawking representa um cientista brilhante com a desdita de lhe ser diagnosticada esclerose lateral amiotrófica em 1963, a mesma doença neurodegenerativa que motivou o Ice Bucket Challenge, para lhe dar um contexto mais moderno. Apesar de ser raro manifestar-se na juventude, neste caso foi descoberta aos 21 anos e as melhores perspectivas apontavam para uma esperança de vida inferior a dois anos. The Theory Of Everything é de fazer chorar as pedras da calçada e ainda por cima é uma biografia. Parece o isco perfeito.

Deixando de parte estes rótulos e este cinismo em geral, a eficácia constante do drama histórico inglês é inegável, tornando-se difícil ignorar a qualidade dos valores de produção e da interpretação principal. Pela investigação no domínio da cosmologia, pela preocupação em tornar compreensíveis para o público geral conceitos complexos através do livro A Brief History Of Time e por ser um sobrevivente contra todas as expectativas, Stephen Hawking ultrapassou a barreira do anonimato académico para se transformar numa figura da cultura popular, a quem falta apenas um prémio Nobel por as suas teorias físicas continuarem a carecer de provas empíricas.

The Theory Of Everything aborda um pouco esses três aspectos e, principalmente, a vida privada, marcada por uma longa relação com Jane Wilde, aluna de humanidades (mais tarde professora) e católica praticante (facto de relevo), que começa nos tempos da universidade e termina nos anos 90, ambos embarcando em segundos casamentos. Casais que se apaixonam e vão perdendo a chama mas nunca a admiração e o respeito mútuo deixam-me mais piegas do que grandes mecanismos dramáticos como doenças devastadoras, confesso. Não há dúvida de que Eddie Redmayne toma conta do recado. De resto, prevalece uma falta de risco que se traduz em competência meio enfadonha.

7/10

Sem comentários:

Enviar um comentário