domingo, 5 de julho de 2015

Coherence (James Ward Byrkit, 2013)

Normalmente associa-se a ficção científica a viagens intergalácticas, fatos de treino futuristas, inovações tecnológicas e, de uma forma geral, efeitos especiais tão pesados que fariam um computador normal engasgar-se todo durante a fase de produção. Contudo, não precisa de ser sempre assim, afinal as maiores descobertas raras vezes extravasam das paredes limítrofes de laboratórios, salas de reuniões, escritórios, bibliotecas, universidades ou centros de pesquisa. Um filme como Coherence, que se desenrola quase na totalidade dentro da mesma casa, talvez esteja mais próximo da essência do género do que se possa assumir à partida.

Quatro casais, oito amigos, reunidos num jantar caseiro e informal, ao mesmo tempo que um cometa passa ao largo da Terra, deixando um rasto luminoso bem visível. Nenhum deles tem conhecimento suficiente para explicar o fenómeno com precisão, muito menos os eventos bizarros que se irão suceder e que podem (ou não) ter alguma ligação com isso. O início parece dum filme indie qualquer sobre amizade e com banda sonora da Vodafone FM, onde as relações entre as personagens são estabelecidas e há potencial para conflitos, trocas e baldrocas, mas quando o grupo vai à rua observar o céu e as luzes de todo o bairro vão abaixo, é certo que o rumo vai mudar bruscamente.

Hugh é advogado, mas tem um irmão cientista com quem prometera manter o contacto nesta noite. Encontra um livro no carro que lhe ia levar sobre física quântica, onde os oito se deparam com algumas teorias sobre a existência de variações duma mesma realidade. Poderão estas, em determinadas circunstâncias, tocar-se? A urgência em obter respostas leva Hugh a dirigir-se à única casa do quarteirão com electricidade. Esta decisão vai acarretar uma série de consequências imprevistas, nomeadamente encontrarem uma caixa com fotografias de todos e um objeto aleatório, receberem cópias de notas escritas por eles e aperceberem-se da existência duma zona negra à volta da casa.

Emily destaca-se pela parcimónia, tentando resolver os problemas que se vão apresentando com cabeça fria, apesar de o namorado Kevin estar prestes a partir para o estrangeiro e ela não saber se pode ou não ir juntamente, e da presença de Laurie, a ex que agora está com outro elemento do grupo, Amir. Emily deverá ser a última a tomar alguma atitude condenável. Se isso acontecer, é melhor nem imaginar o futuro dos outros. Coherence destaca-se pela certeza com que desenvolve uma história tão simples baseada em conceitos da física tão complexos. Com poucos meios e muito improviso, especialmente da parte dos atores, está aqui um filme tenso, inteligente e cativante. Ficção científica reduzida ao essencial.

8/10

2 comentários:

  1. Foi uma ótima surpresa esta ficção com toques de drama extremamente original.

    Abraço

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    1. Sem dúvida! Não tinha grandes expectativas, mas é um filme contagiante.

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