O realismo nunca foi a maior
preocupação no universo Mission: Impossible, nem na série original, nem na sua
tradução cinemática, como os planos elaborados, as máscaras de látex, as
one-liners ou a presença dos Limp Bizkit na banda-sonora sempre fizeram questão
de sublinhar, o que não quer dizer que não há um nível de discrição mínimo que
seja exigível, para nos fazer crer que, com mais ou menos explosões, talvez até
fosse possível existir uma agência de espionagem especializada em situações de
alta complexidade e que estivesse constantemente a correr o risco de ser
exposta, como a Impossible Missions Force, ou IMF.
Claro que tal aura se torna
difícil de manter quando, ao quarto filme, o Kremlin é obliterado, o Burj
Khalifa é escalado e a Transamerica Pyramid é trespassada por uma bomba
nuclear, colocando Ethan Hunt (Tom Cruise) no patamar de alguns super-heróis da
Marvel e DC Comics no que diz respeito à destruição de edifícios icónicos. Este
franchise tenta equilibrar alguma extravagância com alguma sobriedade e, sob
esta perspectiva, o primeiro filme tem-se mantido inigualado, ao qual a única
crítica que se pode fazer é a falta de consideração pela personagem principal
na televisão, Jim Phelps, que se revela um traidor.
Rogue Nation percebe os fatores
que tem de balançar. O argumento não cai no erro de tornar a história demasiado
pessoal, como aconteceu em 2000 e 2006, encontrando novos elementos que a
engrandecem. Como se sabe, a cena em que o líder da equipa recebe uma gravação
que descreve a missão e acaba com “esta mensagem vai-se autodestruir em cinco
segundos” é obrigatória e raramente adulterada. Essa regra é quebrada aqui, tal
é a influência do Sindicato, uma organização composta por antigos agentes
secretos de várias nacionalidades, como Solomon Lane (um Sean Harris sibilino).
A escala absurda de Ghost
Protocol é mesmo realçada pelo diretor da CIA Alan Hunley (Alec Baldwin) para
suportar a ideia de que não faz sentido manter uma unidade tão rebelde como a
IMF, o que manda Ethan Hunt para a clandestinidade à procura de criminosos que
podem não passar de um rumor. O seu chefe William Brandt (Jeremy Renner) chega
a duvidar da sanidade do agente, assim como o espectador, o que é um elemento
interessante de ver, porque éramos sempre levados a desprezar o aparente acaso
dos métodos de Hunt. O carisma de Tom Cruise e de Simon Pegg (estilos
completamente diferentes) vem ao de cima.
A atriz Rebecca Ferguson agarrou
o melhor papel da sua carreira até agora e também o melhor papel feminino dos
filmes feitos até agora. Não é estritamente colega, como Emmanuelle Béart e
Paula Patton foram, nem “damzel in distress”, como Thandie Newton e Michelle
Monaghan foram, é uma espia com lealdade questionável, objetivos em conflito
com os da IMF, fria e bem treinada. Robert Elswit na fotografia é outro
destaque. A forma como a cena na ópera de Viena se desenrola é de pura mestria
visual, em especial nos ângulos utilizados. Rogue Nation sobe assim automaticamente
para segundo no ranking Mission: Impossible.
8/10
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