É verdade que Mario Bava já
tinha, pela altura em que lhe foi oferecida a oportunidade de realizar o seu
primeiro filme, muito conhecimento de causa na matéria, depois de anos como
director de fotografia em filmes pouco conhecidos de todos os géneros e feitios
e de ter ajudado a completar alguns sem receber crédito por isso, incluindo os
de terror que Riccardo Freda aceitava e depois abandonava a meio da produção.
Todavia, não deixa de ser surpreendente a maturidade estilística que envolve
este Black Sunday, baseado num conto gótico que não anda muito longe do tipo de
folclore que originou Drácula, com uma atmosfera soturna ao extremo.
A história passa-se na Moldávia e
começa com uma belíssima e violenta sequência na qual uma bruxa, Asa Vajda, e o
seu marido, de inclinações satânicas, são condenados à morte por imolação pelo
irmão dela e a inquisição da qual faz parte, mas o casal não arde na fogueira
sem antes lançar uma maldição sobre as gerações vindouras da família que os
atraiçoou desta forma e, logo de seguida, lhes ser cravada uma demoníaca
máscara metálica na cara, deixando-os com algumas rugas para a posterioridade.
Duzentos anos depois, o experiente médico Kruvajan e o seu assistente Andre
passam pela região e, imprudentemente, despertam a maldição ao visitar o túmulo
em ruínas de Asa.
O forasteiro mais jovem
apaixona-se imediatamente por Katia, a herdeira da fortuna dos Vajda, que
parece uma cópia a papel químico da sua antepassada adoradora do diabo e de
Dimmu Borgir (especulo eu). Como censurá-lo? A actriz é Barbara Steele, que a
partir deste momento passou a ser a rainha do cinema de terror. Alta, de cabelo
comprido preto e olhar perigoso, a inglesa acumulou em Black Sunday dois papéis
distintos mas intimamente conectados. Aos poucos, os eventos estranhos vão-se
sucedendo e qual deles o mais memorável. O pai de Katia tem uma premonição e vê
a tal máscara no fundo do chá, os olhos do cadáver de Asa borbulham e
regeneram-se, Kruvajan é conduzido por um morto de carruagem… são imagens
inesquecíveis.
A criatividade italiana não deixa
de surpreender. Acho que não é preciso relembrar que em 1960 saíram também
L’Avventura ou La Dolce Vita. Estes filmes nada têm a ver com Black Sunday, claro,
porém menciono-os para reforçar o incrível alcance da produção transalpina
nesta altura, que é das minhas preferidas na cronologia e geografia do cinema.
Macabra q.b., impossivelmente atmosférica, a estreia de Bava teve um impacto
enorme, tendo-a Tim Burton ou Francis Ford Coppola mencionado como uma
influência nos seus trabalhos, e chegou a ser banida no Reino Unido. Tudo
razões que contribuem para a mística que eleva Black Sunday a um patamar apenas
reservado aos grandes clássicos.
9/10
É realmente um grande filme. No ano passado fiz um costa a costa de Mario Bava e salvo excepções, não me arrependi!
ResponderEliminarIronicamente, aquele que é apontado como o seu melhor, o Rabid Dogs, é o que gosto menos, dos que conheço. Este Black Sunday é incrível e outros filmes de terror e de época também :) De quais gostas mais, Pedro?
Eliminar