quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Maniac Cop (William Lustig, 1988)


Quando se fala em filmes-B, tem de se falar em Larry Cohen; dificilmente se encontra neste espectro uma figura que tenha atingido um nível de qualidade tão elevado com tão poucos recursos, tanto em termos de argumento, como de realização ou de produção. Entre os seus créditos, está um como escritor do clássico camp Maniac Cop, um thriller atmosférico com contornos de terror sobre um serial killer que se disfarça de polícia e mata sem critérios.

A primeira razão pela qual este filme merece destaque é pelo retrato que faz da Nova Iorque dos anos 80. Suja, noturna e assustadora, na Grande Maçã cada esquina esconde os seus segredos. Nas retas intermináveis, com os seus ténues lampiões e sem vivalma, que se estendem pelo meio de torres de betão, William Lustig descobre a mesma tensão que tornou Where The Sidewalk Ends, Pickup On South Street ou The French Connection memoráveis.

Matt Cordell (Robert D'Zar) personifica essa força malevolente da cidade, da qual os próprios criminosos parecem ter medo, como mostra a sequência inicial, em que dois ladrõezecos se afastam da jovem que perseguem para a deixar ser a primeira vítima do assassino cuja cara é ocultada pela noite e cujo uniforme passa a ser sinal de perigo. Quando numa metrópole com dezenas de milhões de habitantes a força responsável por manter a lei e ordem nas ruas é temida, o caos instala-se.

Lustig e Cohen conseguem estabelecer esta sensação de insegurança, bem como introduzir as personagens e apresentar um sistema policial ineficaz e um sistema político corrupto com uma facilidade notável. Na primeira meia hora percebemos que o caso, a cargo do detetive Frank McRae (Tom Atkins), não vai acabar sem confrontos e as infidelidades do agente Jack (Bruce Campbell) terão consequências, mas mesmo assim, os caminhos cada vez mais improváveis que a história toma não deixam de surpreender.

Cordell era um homem justo que foi emprisionado sem motivo a mando da máfia e, no único flashback do filme, tomamos consciência do seu trágico destino e de que a sua motivação é a vingança, contra o sistema, contra os criminosos, contra a cidade. Encarcerado em Sing Sing, deixado à mercê daqueles que combateu durante anos, é esfaqueado violentamente no chuveiro, numa cena que dá que pensar quanto à originalidade do famoso ataque a Viggo Mortensen na sauna em Eastern Promises.

Alguns dos procedimentos da investigação e fugas preconizadas por Cordell carecem de realismo e minam um pouco o tom sério do filme, mas não deixam de estar bem integrados na ação. A silhueta ameaçadora e o queixo inchado de Robert Z'Dar são inesquecíveis, ainda que a resistência física da sua personagem chegue a roçar o ridículo e a rivalizar com a aparente imortalidade de Michael Myers da saga Halloween. Bruce Campbell tem uma interpretação sólida e a qualidade de Tom Atkins é intocável.

A selva urbana é território fértil para o thriller, onde as mais complexas vidas parecem pequenas peças num puzzle de dimensões imprevisíveis e é provável que Nova Iorque seja dos cenários mais cinemáticos à face da Terra. Com um orçamento de 1.000.000$00, Maniac Cop é imperfeito, por vezes até intencionalmente engraçado (é curiosa a facilidade com que Jack supera o desaparecimento da sua mulher, por exemplo), mas não deixa de ser competente e emocionante o suficiente para se querer, se ter de ver até ao fim.

7/10

4 comentários:

  1. Andava eu por aqui a vaguear e finalmente encontro um blogue que vai escrevendo sobre algo que me diz algo. Pois é, este série b está-me no goto. Aconselho a trilogia a todos aqueles que se interessem pela franja do cinema de acção violento dos anos 80.

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com

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  2. Olá Pedro! Eu gosto de vários tipos de cinema, espero que encontres vários conteúdos de que gostes por aqui :) Mais cedo ou mais tarde hei-de ver os outros 2 filmes, hehe. Cumprimentos

    True cult movie, sem dúvida :)

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  3. Ótima lembrança, é quase um clássico B dos anos oitenta.

    Tem Bruce Campbell, o herói de "Evil Dead" e Robert Z'Dar, provavelmente o ator mais estranho da história do cinema, podendo rivalizar talvez com Richard Kiel, o "Jaws" da série 007.

    Abraço

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