Não sei bem donde é que veio este Tate Taylor, mas pode estar orgulhoso por ter passado de total desconhecido para realizador de um dos filmes mais falados do ano: The Help. O racismo é um assunto delicado, especialmente numa nação que entrou em guerra civil por causa da convicção dum presidente em acabar com a escravatura, caso dos Estados Unidos da América. A terra da liberdade e das oportunidades tem uma história longa de confrontos raciais e nos anos 60 ainda se andava a discutir direitos civis, tendo surgido um movimento pacífico afro-americano que imporia o fim da discriminação.
É neste contexto que a jovem idealista Skeeter Phelan (Emma Stone), motivada pelo seu desejo de ser uma jornalista de renome em Nova Iorque, decide escrever sobre as serviçais negras, que faziam todo o tipo de trabalho doméstico nas casas de brancos abastados, mas encontrar quem queira ser entrevistada para contar a verdade sobre a vida enquanto cidadãs de segunda classe a sustentar, com muito trabalho duro e remuneração abaixo do salário mínimo nacional, o mundo dos ricos é tarefa quase impossível, ainda para mais no estado do Mississippi, onde o ódio racial era enorme, como ouvimos a certa altura.
O filme é algo manso a abordar o quadro maior, praticamente sonegando a brutalidade de grupos supremacistas do sul como o Ku Klux Klan e a luta de figuras como Malcolm X ou Martin Luther King, optando por um retrato mais íntimo e quotidiano da convivência entre raças. O seu valor está nos pormenores: famílias que constroem casas-de-banho no quintal porque o valor das casas aumenta se as empregadas negras não usarem as interiores, táxis com a inscrição "white only", mulheres brancas que esperam ter sempre prioridade com os carrinhos nos corredores dos supermercados, entre outros.
Apesar disso, Skeeter e o argumento reconhecem a importância real destas pessoas. O aumento da violência leva Aibileen e Minny a aceitar fazer confissões sob anonimato, e o que elas têm para contar revela as contradições duma sociedade cheia de dogmas e equívocos, onde mulheres superficiais, sem emprego e incompetentes para a vida têm filhos como se não houvesse amanhã, mas não participam na sua educação, não lhes dão atenção nem carinho, relegando essas funções para as serviçais negras, que acabam por ser as referências das crianças que, mais tarde, se tornam nos seus novos opressores.
Hilly Holbrook é uma dessas mães, que não olha a meios para garantir a hegemonia branca na cidade de Jackson. Muito se tem falado no elenco feminino deste filme, sem dúvida um dos pontos fortes de The Help, com grandes interpretações de Viola Davis ou Jessica Chastain, mas Bryce Dallas Howard como Hilly merece destaque: retrograda, mentirosa, quase sádica na forma como lida com aquelas que cuidam realmente da sua casa e família, e, por fim, vítima de um simples mas inesquecível golpe de justa vingança por parte de Minny (Octavia Spencer, a segunda melhor interpretação), que não me atrevo a descrever.
As personagens são tridimensionais e numerosas, o que torna o filme num mosaico abrangente e capaz de agradáveis momentos cómicos e desconfortáveis momentos dramáticos. Um argumento bem escrito, que pede apenas uma questão, se, para um filme de 2 horas e meia, não haveria tempo para mostrar mais sobre as repercussões do ato desafiador destas mulheres e da comunidade afro-americana em geral, algo que bem podia substituir o insosso namoro de Skeeter. Mérito por, mesmo assim, escavar fundo nesta questão e neste período, quando, 50 anos depois, os EUA têm um presidente negro.
7/10
achei esse um dos cinco melhores filmes do ano, muito por causa do seu carisma, como ele "pega" o espectador, cativa ... o texto é excelente, o elenco dispensa comentários!
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