sábado, 15 de setembro de 2012

December Boys (Rod Hardy, 2007)


Daniel Radcliffe interpreta um órfão - o alcance deste rapaz é incrível. Pelo menos o casting não podia ter corrido melhor, é difícil negar o seu talento para este tipo de papéis e a sua presença em nada minimiza o filme, antes pelo contrário. December Boys trata de um orfanato católico, perdido no interior da Austrália nos anos 60, que passa a ter a possibilidade de mandar de férias os seus inquilinos, para uma pequena localidade piscatória. Os primeiros a embarcar nessa oportunidade inédita de viajarem até à costa são os 4 miúdos com aniversário em Dezembro, ou seja, Maps, Misty, Sparks e Spit.

A história é narrada pelo segundo, idoso e fora de câmara, como que recontando a sua infância ingénua e invulgar a uns possíveis netos. O filme começa por mostrar, com agradável neutralidade, a calma vida no asilo, onde, apesar das regras das freiras, não deixava de haver espaço para se crescer saudavelmente e para comportamentos transgressivos de vez em quando, que também fazem parte da idade. Não vilificar este ambiente é uma decisão acertada quando é suposto a nostalgia mostrar o caminho, e desde cedo vieram-me à memória Picnic At Hanging Rock e Walkabout.

Alegres mas confinados e alojados no meio de nenhures, sair dali temporariamente é uma ideia que nunca deixa de fascinar os amigos, mas essa gratidão pela oportunidade é demais evidente durante a travessia pelo deserto até ao mar, em que belas imagens do território australiano se sucedem, evocando a imensidão do mesmo. Misty arregala os olhos sonhadores atrás dos óculos. Nem 10 pessoas moram na baía que os acolhe e 2 delas são o bondoso casal McAnsh, que lhes oferecem residência e disciplina suficiente para contrabalançar a liberdade inédita.

Enquanto os mais jovens, em especial Misty, orientam esforços para que um deles possa ser adotado pela francófona Teresa e o motoqueiro circense Fearless, um par amoroso impedido de ter filhos, a atenção de Maps, mais velho e noutra fase do seu crescimento, é desviada para uma rapariga, Lucy. Todo o embaraço característico de Daniel Radcliffe se adequa à personagem, vê-se logo no primeiro contacto que tem com Teresa (saindo da água, nua, para oferecer aos miúdos protetor solar). Está em idade de começar a interessar-se pelo sexo feminino mas é demasiado desajeitado, pela falta de prática.

O argumento consegue ser meigo mesmo quando confronta as vivências infantis do quarteto com temas menos inócuos, como o cancro. Estabelece também com sucesso a amizade forte que une os órfãos e mesmo quando se desentendem parece que nunca perdem noção de que estão no mesmo barco. Chega a ser especialmente tocante a forma como acabam por apoiar Misty para que este ganhe os pais por que sempre desejou. É nesta altura que há uma reviravolta que estraga toda a experiência do filme, com Misty a preferir voltar para as freiras depois de tantas preces para ser abençoado com a família perfeita.

Tudo indicia a permanência de Misty na baía, passamos todo o tempo a desejar que seja adotado, porque é o que ele quer e merece, para, no fim, ele rejeitar isso tudo e é suposto aceitarmo-lo com a maior leveza e compreensão possíveis. Nunca vi um filme criar tanta expectativa e depois dizer "meh, deixem lá, se calhar é melhor continuar como estava". É um desperdício da simpatia dos atores e da fotogenia da Austrália. Ficam as brincadeiras no areal, os primeiros beijos e amores, o potencial de Daniel Radcliffe e Teresa Palmer, o espírito de inocência e descoberta, tão difícil de descrever, tão bem captado aqui.

6/10

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