quinta-feira, 20 de setembro de 2012

The Dark Knight Rises (Christopher Nolan, 2012)


É impressionante a dimensão que os últimos filmes do Batman atingiram, não só em termos de bilheteiras, sendo que The Dark Knight Rises é o segundo desta trilogia a ultrapassar os mil milhões de lucros, mas especialmente em termos de alcance e espetacularidade. Lembro-me de este ser o meu super-herói preferido quando era mais novo, em parte porque os seus únicos superpoderes são o treino físico e a engenharia, em parte porque Gotham sempre me pareceu o sítio mais negro e mais perigoso à face da terra. Lembro-me de quadradinhos cheios de sombras e sangue, ruas imundas e vilões desfigurados. Lembro-me de achar que, mesmo não desgostando do que o Tim Burton tinha feito, ainda estava para vir o dia em que algum filme conseguisse captar o negrume e o sentido de ameaça constante que transbordava da banda-desenhada. Hoje já não posso dizer o mesmo nesse aspecto.

Oito anos depois dos eventos de The Dark Knight, a cidade está em paz. Harvey Dent tornou-se um mártir da luta contra o crime e Batman um vilão inexplicavelmente desaparecido. Na realidade, as provações do passado debilitaram Bruce Wayne física e psicologicamente, mas os prenúncios de uma "tempestade" preocupam-no. O submundo agita-se e, nos esgotos, um antigo membro da Liga das Sombras, Bane, coordena um novo movimento terrorista. Como Christopher Nolan admitiu, o tema predominante é a dor, e é de admirar que a maior extravagância de efeitos especiais da sua carreira acabe também por ser uma das mais dramáticas. A morte de Rachel parece insuperável, a intrepidez e força de Bane revelam-se avassaladoras e a vontade de Alfred de proteger o seu último amo de andanças que este poderá não mais aguentar levam Wayne a bater no fundo em muitos sentidos.

Michael Caine tem mesmo a melhor interpretação aqui, com a personagem menos glamorosa de todas mas a que esteve sempre mais próximo do herói do que qualquer outra e consegue portanto prever com mais claridade que ninguém o pior. Comunicar os seus receios, empilhados durante anos de serviço, com a emoção de quem se preocupa e quer o melhor, e receber incompreensão como resposta é a cena mais simples e mais visceral de todas. Esta é a grande diferença em relação a The Dark Knight: o incessante jogo de gato e rato com o Joker é substituído por uma procissão de eventos com destino a um apocalipse, trazendo uma implacabilidade sem precedentes. É verdade que este salto de uma rivalidade mitológica passível de ser prolongada ad infinitum para uma conclusão pode ser demasiado definitivo num universo com tantas histórias, mas não deixa de ser arrojado e lógico.

Desde o espectacular assalto a um avião da CIA às visões mais cataclísmicas de Gotham (maioritariamente Nova Iorque, assumido sem pudor com establishing shots do novo World Trade Center) é notório quão mais elevada é a parada para os seus cidadãos, o caos já não é suficiente, o objectivo de Bane é a destruição através da tortura, o combate de Batman e dos seus aliados, novos e antigos, não é só contra o crime, mas contra a revolução, e há escolhas para serem feitas. Aqui entra em evidência o maior triunfo de Nolan, que se serve da intemporalidade de uma cidade ficcional permanentemente dividida entre forças do mal palpáveis por se reduzirem a formas tão reais de corrupção (na economia, na política, etc.) e violência (com criminosos de meia tigela, assaltantes de bancos, etc.) e forças do bem credíveis por se reduzirem a polícias comuns ou a um mascarado tão humano, para a dotar de uma subversiva contemporaneidade.

Com os países ocidentais em recessão, as suas sociedades em estagnação cultural e as populações em clivagem de 99% contra 1%, são tempos de incertezas. Bane é um beco sem saída, que oferece um meio de libertar frustrações mas nenhuma solução sustentável. Selina Kyle (Anne Hathaway perfeita para o papel), avisa Wayne de que, em breve, os ricalhaços como ele vão ser confrontados com o facto de viverem em abundância enquanto o resto tem de remediar, por regra. Ver a bolsa ser destruída por metralhadoras pode ser doentiamente satisfatório. Sendo o capitalismo a base do nosso sistema, é um pensamento assustador. The Dark Knight Rises não precisava de ser um fim, mas, a sê-lo, faz a ponte que se impunha até Batman Begins e desenvolve-se com uma ambição enorme, que Nolan gere com a sua lacónica competência. É o meu preferido da trilogia.

9/10

1 comentário:

  1. Muito bom filme. É impossível não se gostar. É um grande trabalho de um grande realizador. Um simples filme de Batman tornado numa grande obra.

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