quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Nick And Norah's Infinite Playlist (Peter Sollett, 2008)

Michael Cera e Kat Dennings são a dupla perfeita para um filme indie e quirky que também consegue ser heartfelt e true to life. Desculpem os anglicismos, mas Nick And Norah's Infinite Playlist é realmente um agradável romance urbano, com grandes jovens actores, a vida nocturna de Nova Iorque como personagem e uma banda sonora de elevada qualidade.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Yol (Serif Gören, Yilmaz Güney, 1982)


Yol acaba com um agradecimento a todos os que nele participaram, à frente e atrás das câmaras, superando as grandes contrariedades naturais e sociais que dificultaram a sua execução. Quanto às primeiras, na altura em que esta mensagem aparece já terá ficado patente os sacrifícios que devem ter sido feitos para conseguir gravar todas as cenas, que incluem passagens por prisões de alta segurança, aldeias no deserto e trilhos nas montanhas mais remotas e com condições atmosféricas mais adversas que se pode conceber. Relativamente à segunda parte, é acima de tudo uma referência ao facto de Yilmaz Güney, argumentista/realizador curdo, estar preso na altura e de as filmagens terem sido secretas e coordenadas pelo seu assistente, Serif Gören.

Com o golpe de estado de 1980 na Turquia, Güney conseguiu fugir para a Suiça no ano seguinte, onde montou o filme, que viria a ganhar a Palma de Ouro no festival de Cannes. É sobre essa época conturbada que se foca a história, na qual vários reclusos da prisão de Imrali (a mesma de Midnight Express) recebem licença de saída jurisdicional. A quantidade de personagens que somos levados a seguir acaba por ser a sua principal força e fraqueza, porque vemos vários lados e perspectivas dos conflitos que se propagavam por todo o país (chegou a ser fundado um movimento armado para a fundação de um estado curdo e, como consequência, foi imposta uma lei marcial), mas algumas acabam por ser inevitavelmente menos interessantes que outras.

Duas delas sobressaem: Mehmet Salin, um homem à procura de paz e dignidade, que vive com o remorso de ter abandonado o cunhado durante um roubo a dois e de o ter visto ser abatido à queima-roupa pela polícia através do retrovisor, enquanto tentava fugir de carro. Temporariamente livre, Salin quer pedir o perdão da esposa, filhos e restante família pela sua atitude cobarde, motivada pelo medo. A primeira pessoa que vai ver é um amigo acamado, a quem primeiramente conta uma versão um pouco mais heróica dos factos, só para depois assumir que está a mentir e desabafar sem reservas. É um momento simples e tocante, filmado com grande sobriedade. Ao mesmo tempo, Seyit Ali viaja à terra natal para confrontar a mulher, que o cobre de vergonha por se ter transformado numa prostituta.

Os espaços físicos do filme vão sendo cada vez mais extensos e ermos, talvez indicando aquilo que estes homens realmente desejam: liberdade. Porque não é só o crime e a política que os mantém cativos, mas também as tradições religiosas e culturais, a que têm de obedecer quando deixam de ter de obedecer aos guardas prisionais. O tratamento das mulheres merece reflexão; a desigualdade entre sexos ainda não foi extinta nos países ocidentais, mas podemos pôr as coisas em perspectiva se nos lembrarmos do quão atrasados estão outros povos nesta matéria, a verdade é essa... Considerando tudo isto, é um milagre que este filme tenha sido feito, e acredito que isso tenha sido tomado em conta na Croisette, num ano particularmente forte. No entanto, a qualidade e o alcance de Yol é mesmo uma evidência.

7/10

domingo, 27 de janeiro de 2013

2º Torneio Interblogues

Chegou ao fim o 2º Torneio Interblogues organizado pelo CINEdrio. O vencedor do intitulado "Angústia do Blogger Cinéfilo no Momento do Penalty" foi o Dial P For Popcorn, com 60% dos votos na final! Parabéns ao Jorge Rodrigues e ao João Samuel Neves pela prestação da sua equipa. A minha ficou-se pelos quartos-de-final, pelo que no estágio de preparação para a próxima época teremos de rever estratégias e iremos talvez ser activos no mercado de transferências. Foi assim que tudo correu:

QUATROS-DE-FINAL
O Narrador Subjectivo vs. CINEdrio
Caminho Largo vs. Rick's Cinema
Dial P For Popcorn vs. Keyser Soze's Place
Shut Up And Watch The Movies vs. A Sombra Do Elefante

SEMI-FINAIS
Caminho Largo vs. CINEdrio
Dial P For Popcorn vs. Shut Up And Watch The Movies

FINAL
Dial P For Popcorn vs. Caminho Largo

FOTOGRAFIAS: A Nightmare On Elm Street

"Porque é que estes fedelhos não me deixam ouvir a cassete do Rick Astley em paz?! Vou fazer-lhes a vida negra."

sábado, 26 de janeiro de 2013

TRAILERS: Evil Dead (Fede Alvarez, 2013)

Evil Dead é dos maiores tesourinhos do cinema de terror, conhecido pela sua violência extravagante, história quase inexistente e por ter trazido à ribalta o carismático Bruce Campbell. Agora, o primeiro filme de Sam Raimi, que na altura teve um orçamento tão apertado que os mais complexos planos de grua pelo meio do bosque acabaram por ser feitos por cima de skates (true story), ganha um remake. Esperemos que não cheire mal, como o realizador (Fede Alvarez).

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Veronika Decides To Die (Emily Young, 2009)


Veronika Decide Morrer é talvez, a par de O Alquimista, o livro mais famoso de Paulo Coelho, o escritor brasileiro que para uns encontra na espiritualidade resoluções para sentimentos como o medo e o amor, e para outros apela à pieguice através de charlatanismo. Sarah Michelle Gellar assume o papel principal de uma jovem que não consegue deixar de estar permanentemente insatisfeita, se não com o rumo que a sua vida tomou, então com o rumo que a sua vida pode tomar. Há pessoas assim, que nem recebendo todo o dinheiro, toda a beleza, todo o carinho do mundo deixam de ter pena de si próprias. Por vezes, estes casos justificam-se com questões pessoais de fundo há muito enterradas ou com distúrbios mentais, que os tornam merecedores de simpatia e compreensão. Lembro-me de Face To Face de Ingmar Bergman, um filme verdadeiramente visceral e envolvente sobre esta situação.

Veronika Decides To Die não chega tão longe, limitando-se a uma superficial procura de significado existencial, partindo da ideia sufista (a corrente mais contemplativa do Islão) de que todos somos um bocadinho loucos, simplesmente alguns perdem o controlo, para chegar à ideia de que a forma de lidar com um pessimista é fazê-lo crer que o pior está a acontecer e rezar para que tenha sido manipulado o suficiente para começar a ver o melhor em tudo. Há muitas más concepções sobre os procedimentos psiquiátricos aqui, porque enfermeiros agarrarem à força um paciente que mostra espontaneamente os primeiros sinais de melhoria, apenas falando pela primeira vez ao fim de muito tempo internado, é uma distorção da realidade, mas com a música certa torna-se um belo momento dramático; a história é fina e incongruências destas são formas baratas de sentimentalismo. Não quer dizer que não hajam cenas genuinamente tocantes, lembro-me da visita dos pais de Veronika na instituição para a qual é enviada depois da sua overdose voluntária de medicamentos, no entanto até essas sofrem quase sempre com maus diálogos, má direcção de actores ou de prolongamento desnecessário.

A componente mais romântica, em que o relacionamento com um catatónico a faz reavaliar a sua existência e o transforma no namorado perfeito sem grande explicação, também não sai ilesa. Há pouca noção de ritmo, o que, associado a uma realização que se limita a movimentos aleatórios, a focar só o que está em primeiro plano, entre outros truques que acabam por não fazer transparecer a claustrofobia, proximidade e desgraça iminente que se calhar se pretendia, estende um manto de mediocridade sobre o filme. Eu não deixo de gostar da Sarah Michelle Gellar e de achar que o seu esforço enquanto protagonista é mais que satisfatório, para não falar de Melissa Leo e Erika Christensen, também elas residentes na instituição, e agradeço aos argumentistas a redução ao essencial do misticismo frequentemente parolo de Paulo Coelho, mas o material de origem já não é, digamos, muito eloquente, e a execução de Emily Young não o eleva a outro nível.

5/10

sábado, 19 de janeiro de 2013

CITAÇÕES: The Mission (Roland Joffé, 1986)

Mendoza (Robert De Niro): For me there is no redemption, no penance great enough.
Gabriel (Jeremy Irons): There is. But do you dare to try?
Mendoza: Do you dare to see me fail?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

La Stanza Del Figlio (Nanni Moretti, 2001)


A veneração de Nanni Moretti pelo humor físico e absurdo de personalidades incontornáveis do cinema americano como Buster Keaton ou Harold Lloyd é bastante evidente em filmes como Bianca ou Palombella Rossa, mas com o passar do tempo os paralelismos com Woody Allen foram-se tornando cada vez mais pronunciados e pertinentes, apesar da substituição de constantes referências e dilemas religiosos por políticos. Ambos refinaram um equilíbrio entre drama e comédia com um cunho muito próprio que, no caso do italiano, atinge o cume neste filme.

Não consigo imaginar pior destino para qualquer casal do que ter de enterrar um filho e terá sido esse medo a inspirar La Stanza Del Figlio, com o advento da paternidade para Nanni Moretti, na altura. Nota-se uma preocupação urgente e primordial sobre a imprevisibilidade do presente, no fundo a impossibilidade de uma família estar preparada para a morte prematura de um dos elementos, especialmente quando se acerca de forma tão súbita como aqui. Tudo se resume a um acontecimento universal, antecedido pela manutenção de um quotidiano trivial e sucedido pela sua degradação.

Na ausência de história, é surpreendentemente captivante ver momentos da intimidade caseira sucederem-se, por serem facilmente reconhecíveis e por adquirem conotações diferentes em alturas diferentes. Acho que as frustrações do trabalho, o cultivar de hobbies ou as refeições em conjunto preenchem o dia-a-dia de muito boa gente, e neste filme não passam por mais do que isso, não são instrumentos de um enredo, são apenas retratos através dos quais ficamos a conhecer estas pessoas. A câmara inclui-nos neste lar e fica intrínseco um nível de proximidade inexcedível.

A inconsistência no tom que afecta muitos dos trabalhos de Moretti não é um problema em La Stanza Del Figlio. É reconfortante não ser submetido nem a uma lavagem de humor seco, referências esquerdistas e desfechos desenxabidos, nem a um caldo de miserabilismo. Para voltar a Woody Allen, não é Bananas nem Interiors – e ainda bem. Há um sentimento orgânico de neutralidade que abre a possibilidade de nos rirmos quando o pai psicólogo pensa em piadas sobre os pacientes enquanto os ouve, antes de Andrea falecer, e de ficarmos vulneráveis quando lhe dá vontade de chorar em pleno consultório, depois do acidente.

Laura Morante volta a fazer, como em Bianca, uma grande dupla com o actor/realizador (que, já agora, nunca me pareceu muito musical, mas aqui usa a By This River do Brian Eno na perfeição). Brevemente, vemos como a dor de uma tragédia tão inesperada quanto verosímil pode levar à raiva, à separação física e emocional ou à culpabilização. Contudo, há que recuperar uma abertura de espírito que permita descobrir novas ou redescobrir antigas razões para seguir em frente. O festival de Cannes talvez nunca tenha premiado com a Palma de Ouro um filme mais desarmante na sua simplicidade.

8/10

sábado, 12 de janeiro de 2013

LISTAS: Peter Jackson

Os 12 filmes preferidos de Peter Jackson (em 2012):

  1. King Kong (Merian C. Cooper, Ernest B. Schoedsack, 1933)
  2. The General (Buster Keaton, 1926)
  3. Dawn Of The Dead (George A. Romero, 1978)
  4. The 7th Voyage Of Sinbad (Nathan Juran, 1958)
  5. Dr. No (Terence Young, 1962)
  6. From Russia With Love (Terence Young, 1963)
  7. Goldfinger (Guy Hamilton, 1964)
  8. Captain Kronos - Vampire Hunter (Brian Clemens, 1974)
  9. Thunderbirds Are GO (David Lane, 1966)
  10. Jurassic Park (Steven Spielberg, 1993)
  11. The Abyss (James Cameron, 1989)
  12. Saving Private Ryan (Steven Spielberg, 1998)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

TRAILERS: Gigi (Vincente Minnelli, 1958)

E quando este musical de Vincente Minnelli ganhou o Óscar de Melhor Filme (e outros oito) no ano em que estavam também nomeados Cat On A Hot Tin Roof, The  Defiant Ones ou Separate Tables e podiam ter estado nomeados Vertigo, A Time To Love And A Time To Die ou Touch Of Evil? Isto só para falar de um dos anos mais imprevisíveis no que diz respeito a esta matéria, no dia em que foram conhecidos os nomeados de 2013, entre os quais dominam dramas históricos e/ou politicamente relevantes, mas depois temos Les Misérables. Vai ser interessante.

domingo, 6 de janeiro de 2013

All The President's Men (Alan J. Pakula, 1976)


Aquele que é hoje recordado como o maior escândalo presidencial da história dos EUA começou por ser apenas mais um quadrado de texto no meio dos jornais. A 17 de Junho de 1972, cinco homens eram apanhados por um guarda nocturno a vasculhar a sede de campanha do Partido Democrata no edifício Watergate, meses antes da eleição que oporia o incumbente Richard Nixon a George McGovern. Logo a abrir, All The President’s Men deixa no ar uma atmosfera cortante de silêncio e suspeita, com a recriação do assalto e do julgamento subsequente – a falta de atenção mediática dada ao primeiro e a celeridade na resolução do segundo são de uma estranheza alarmante, é óbvio que algo ali não bate certo e ver Robert Redford aparecer disfarçado de Bob Woodward, na altura jornalista novato do Washington Post, partilhar dessa ansiedade, que perpassa da naturalidade com que esses acontecimentos se sucedem, é um alívio.

Woodward dedica-se a fazer perguntas indiscretas, pessoal ou telefonicamente, e as respostas que recebe rapidamente o levam a partidários republicanos de alto calibre com ligações à CIA e responsáveis pela gestão e pela tesouraria do Comité de Reeleição do Presidente. Todavia, a inexperiência afiança-lhe pouca atenção para tal história e quando é surpreendido com o interesse do seu colega Carl Bernstein (Dustin Hoffman) procura com relutância mas humildade fundar uma parceria, que se viria a revelar frutífera e objecto de receio e inveja. A integridade do par, acoplada com uma curiosidade característica dos melhores jornalistas de investigação, garante-lhes entrevistas reveladoras com funcionários coagidos por forças poderosas e obscuras, que são usadas em artigos sem referências às fontes de informação, uma decisão que os coloca constantemente em rota de colisão com os editores.

Felizmente, encontram aliados dentro e fora do jornal que os incentivam a perseguir a verdade, ainda que com a gravidade de quem, instintivamente, começa a antecipar o “longo pesadelo nacional” (expressão que Gerald Ford usaria para descrever o escândalo de Watergate anos depois, no seu perdão a Nixon pelo mal que fizera à América, decisão ainda hoje controversa) que poderia estar a vir à tona. Afinal, como o título indica, é um filme sobre homens, uns empedernidos pelos lucros que retiraram das imperfeições do sistema, alguns tergiversantes graças à falta de esperança na democracia, outros incorruptíveis perante o desafio de assegurar que a corrupção e a mentira não têm lugar numa nação civilizada. É o grande trunfo do inovador argumento de William Goldman (um dos melhores de sempre): não há contemplações nem catarses, apenas a rispidez do trabalho e a solenidade da justiça.

Porque em tempos de sonegação e ameaças, falar é um acto de coragem, All The President’s Men não se desvia do incansável esforço de Woodward e Bernstein, que não param mesmo sabendo que as suas vidas podem estar em perigo por exporem as ligações dos serviços secretos e do presidente a escutas ilegais, esquemas de lavagem de dinheiro e encobrimento da tentativa de roubo de dados e documentos por detrás do caso Watergate. Isto, claro, assumindo a ajuda preciosa de Deep Throat, alcunha da fonte principal dos jornalistas, cuja identidade só foi revelada em 2005. Os encontros numa garagem mal iluminada são cenas icónicas, momentos simples de revelação que carregam um simbolismo poderosíssimo. Metódico, realista e com um elenco de luxo, All The President’s Men é obrigatório e a sua abordagem “no bullshit” uma influência para David Fincher, Tony Gilroy e muitos outros.

8/10

sábado, 5 de janeiro de 2013

POSTERS: Carrie (Brian De Palma, 1976)




Agora que a estreia do remake com a actriz Chlöe Grace Moretz está iminente, aqui fica uma lembrança do original sob a forma de 3 posters muito diferentes, um dos primeiros filmes de Brian De Palma, que, apesar da idade se notar um pouco, continua a ser bastante bizarro.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

SONDAGENS: Dezembro de 2012

Qual o melhor filme de animação de 2012?

  1. Frankenweenie (35%)
  2. ParaNorman (23%)
  3. Brave (17%)
Amostra: 17 votos.

O último filme de Tim Burton venceu a sondagem deste mês. Esta versão alongada de uma das primeiras curtas do realizador americano conta a história de um rapaz viciado em ciência que inventa uma forma de ressuscitar o seu cão atropelado. O fascínio de Burton por filmes de terror, a morte e o stop-motion estão em jogo, uma mistura que lhe é característica e o destaca. Brave, da Pixar, ficou apenas em terceiro. Obrigado a todos os que votaram!