segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Padre Padrone (Paolo Taviani, Vittorio Taviani, 1977)


Apesar de nunca ter residido num meio rural, sempre tive família na aldeia, por isso o contacto com este ambiente não me é completamente estranho, mas não me permito especular sobre o isolamento e o atraso que se pode sentir nessas condições, muito menos em décadas passadas, onde as tecnologias triviais de hoje eram uma miragem. Se ainda me lembro de jantar à luz das velas devido aos constantes apagões em tempos de chuva na década de 80, nem quero imaginar como seria antes.

Por conseguinte, consigo reconhecer a austeridade e o arcaísmo de Padre Padrone e associá-los a essas memórias, mas não deixei de ser surpreendido pela representação do dia-a-dia destes pastores sardenhos, pela dureza das suas vidas e pelas suas técnicas de combate à monotonia. A pobreza de uma família que tira o filho da escola primária para cuidar dos rebanhos, a solidão das incursões prolongadas nas montanhas e a insularidade são realidades palpáveis e implacáveis.

Gavino é o saco de porrada predilecto do pai, que considera uma desonra o filho querer estudar e prefere endurecê-lo e educá-lo na sua profissão, usando métodos como abandoná-lo com as ovelhas à noite ou castigá-lo por ter medo de uma cobra. Ele cresce e, depois de anos neste marasmo, é enviado à força pelo pai para o exército, onde aprende a ler e a escrever em várias línguas e contacta com a música e a electrónica, acabando por decidir rebelar-se contra o seu destino na terra natal e perseguir uma educação superior.

O feitiço vira-se contra o feiticeiro, de tal forma que esta história é enquadrada por entrevistas com o autor do livro no qual Padre Padrone é baseado, ou seja, o verdadeiro Gavino, que acabou por se tornar escritor. Se estes relatos são verídicos ou ficcionados, se resultam de um desejo de partilhar experiências ou de expiar frustrações, não sei, o que é verdade é que os irmãos Taviani não poupam no miserabilismo nem têm qualquer noção de continuidade e o filme torna-se difícil e aborrecido rapidamente.

Para além de uma das cenas mais bizarras de que tenho memória, em que crianças cometem actos variados de bestialismo, a violência doméstica é tão incessante que chega a ser injustificável perante as situações apresentadas, a mãe parece bipolar e o pai podia inspirar alguma indulgência, mas não, é impossível, de tão desumano e alarve que é. Se calhar, de outra forma, Padre Padrone não transmitiria tão bem o quão selvagem a Sardenha parece ser; essa aspereza impressiona, mas as peças não encaixam todas.

5/10

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