sábado, 4 de maio de 2013

Friendly Persuasion (William Wyler, 1956)


Aquando do relançamento de Friendly Persuasion, um dos slogans era “you’ll love SAMANTHA, THE GOOSE”, assim com o caps lock ligado e tudo; é um bocado estranho que num filme com tantas estrelas, que aborda várias temáticas e que recebeu seis nomeações para os Óscares as equipas de marketing da altura tenham escolhido realçar uma personagem que tem grasnidos no lugar de falas e aparece por uns segundos meia dúzia de vezes enquanto animal de estimação, o que significa que ou se tratou de um golpe de publicidade de eficácia duvidosa, ou o filme tem poucos motivos de interesse ou então um pouco de ambas. Inclino-me mais para esta última hipótese.

Gary Cooper é o patriarca da família Birdwell, mas fica claro muito cedo que quem dita as regras em casa é a esposa Eliza (Dorothy McGuire), sendo ministra do movimento religioso que praticam - são Quakers, o que significa que se vestem como há 200 anos (o que causa pouco estrondo aqui já que a história se passa durante a Guerra Civil), levam a Bíblia muito a sério (apesar de Wyler ocupar grande parte do tempo a mostrar como se divertem a violar aquilo em que acreditam) e não abdicam de falar inglês arcaico substituindo “you” por “thee” ou “your” por “thy” (torna-se cansativo ouvir todos os "Muggles" que conhecem fora da comunidade verbalizar e gozar com esse facto).

Friendly Persuasion tem em Anthony Perkins o seu grande trunfo. Apenas na sua segunda aparição cinemática, numa altura em que felizmente ainda o associavam a mais do que a papéis de psicopatas educados, interpreta o filho mais velho do casal, que se sente dividido entre o alheamento dos Quakers em nome da paz do conflito que se estendia por toda a América e tomar uma atitude patriótica e pró-activa em defesa de ideais que afinal apoiam, mais concretamente a abolição da escravatura. À medida que a frente de batalha se aproxima da sua casa, é notória a sua maior inclinação para empunhar a espingarda do pai, mesmo sabendo que vai desiludir a mãe e Deus ao quebrar um dos mandamentos.

A família mantém-se unida graças ao equilíbrio da ordem imposta pela mãe e da tolerância prestada pelo pai; ainda assim, há demasiado foco na milhentas formas em que é possível incorrer em deslizes fazendo parte deste grupo restrito e tanto a cena da feira como tudo o que envolve a compra de um órgão por Jess (pelos vistos, têm opiniões contraditórias quanto à reprodução de música) prolonga-se excessivamente e as reacções de Eliza são desproporcionadas. Wyler gere desajeitadamente o socorro a Josh, parecendo dotar o pai de invencibilidade, mas o embate entre pacifismo e idealismo está sempre bem explorado. Um olhar compreensivo a um modo de vida incomum mas honesto e humilde.

6/10

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