Aquando do relançamento de Friendly Persuasion, um dos
slogans era “you’ll love SAMANTHA, THE GOOSE”, assim com o caps lock ligado e
tudo; é um bocado estranho que num filme com tantas estrelas, que aborda várias
temáticas e que recebeu seis nomeações para os Óscares as equipas de marketing
da altura tenham escolhido realçar uma personagem que tem grasnidos no lugar de
falas e aparece por uns segundos meia dúzia de vezes enquanto animal de
estimação, o que significa que ou se tratou de um golpe de publicidade de
eficácia duvidosa, ou o filme tem poucos motivos de interesse ou então um pouco
de ambas. Inclino-me mais para esta última hipótese.
Gary Cooper é o patriarca da família Birdwell, mas fica
claro muito cedo que quem dita as regras em casa é a esposa Eliza (Dorothy
McGuire), sendo ministra do movimento religioso que praticam - são Quakers, o que
significa que se vestem como há 200 anos (o que causa pouco estrondo aqui já
que a história se passa durante a Guerra Civil), levam a Bíblia muito a sério
(apesar de Wyler ocupar grande parte do tempo a mostrar como se divertem a
violar aquilo em que acreditam) e não abdicam de falar inglês arcaico
substituindo “you” por “thee” ou “your” por “thy” (torna-se cansativo ouvir
todos os "Muggles" que conhecem fora da comunidade verbalizar e gozar com esse
facto).
Friendly Persuasion tem em Anthony Perkins o seu grande
trunfo. Apenas na sua segunda aparição cinemática, numa altura em que
felizmente ainda o associavam a mais do que a papéis de psicopatas educados,
interpreta o filho mais velho do casal, que se sente dividido entre o
alheamento dos Quakers em nome da paz do conflito que se estendia por toda a
América e tomar uma atitude patriótica e pró-activa em defesa de ideais que
afinal apoiam, mais concretamente a abolição da escravatura. À medida que a
frente de batalha se aproxima da sua casa, é notória a sua maior inclinação para empunhar a
espingarda do pai, mesmo sabendo que vai desiludir a mãe e Deus ao quebrar um
dos mandamentos.
A família mantém-se unida graças ao equilíbrio da ordem
imposta pela mãe e da tolerância prestada pelo pai; ainda assim, há demasiado
foco na milhentas formas em que é possível incorrer em deslizes fazendo parte
deste grupo restrito e tanto a cena da feira como tudo o que envolve a compra
de um órgão por Jess (pelos vistos, têm opiniões contraditórias quanto à
reprodução de música) prolonga-se excessivamente e as reacções de Eliza são
desproporcionadas. Wyler gere desajeitadamente o socorro a Josh, parecendo
dotar o pai de invencibilidade, mas o embate entre pacifismo e idealismo está
sempre bem explorado. Um olhar compreensivo a um modo de vida incomum mas
honesto e humilde.
6/10
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