É aos EUA que é normalmente atribuído o epíteto de terra das
oportunidades, mas para emigrantes do norte de África ou do Médio Oriente,
talvez a Europa pareça tão ou mais atractiva. Todos os anos ouvimos falar de
travessias clandestinas de barco pelo Mediterrâneo de pessoas que apenas
procuram uma vida melhor mas esbarram contra aproveitadores, políticas
restritivas ou mesmo a morte.
Eden Is West começa então à deriva. Dois amigos de
nacionalidade desconhecida sonham com a França, estudaram a língua durante um
ano e compraram viagens ilegais para lá chegar. No entanto, um encontro
nocturno com a polícia marítima obriga-os a entrar em modo de sobrevivência e
saltam do barco para nadarem até terra. A manhã revela que pelo menos um deles,
Elias, conseguiu.
Costa-Gavras vai testando tons diferentes, não se decidindo
entre a comédia de intervenção e o drama de denúncia social. A personagem
principal deu à costa num resort de nudismo, primeiro é confundido por um dos
empregados, depois consegue passar por cliente, e vai jogando com as
circunstâncias para tentar evitar ser apanhado. A sua inocência e honestidade costumam
protegê-lo.
Quando acidentalmente é escolhido para auxiliar o
espectáculo dum mágico e, no fim, este lhe deixa um contacto em Paris, Elias assume
que se chegar à capital francesa terá emprego assegurado no showbiz. Depois de
muitas cambalhotas na cama de uma turista alemã, a sua simpatia vale-lhe
dinheiro suficiente e uma brecha para seguir em frente.
Ao contrário de outras alturas no passado, o realizador
grego prefere, desta vez, ser mais contido nas asserções políticas, mas não
deixa de ficar patente a ideia de que se calhar os europeus têm de rever
algumas prioridades e de que são menos tolerantes do que julgam. Claro que a
imigração tem limites, mas os dispositivos em vigor que a controlam podem ser
desumanos.
A sequência dos ciganos acaba por resumir bem o filme: um
grupo auxilia Elias a fugir da polícia, julgando-o um deles, e quando percebem
o equívoco, riem-se e levam-no para um acampamento, que algum tempo depois é
atacado. Os gags sucedem-se, uns com mais piada, outros com menos e alguns
ainda simplesmente bizarros, como os camionistas alemães que parecem prontos a
abusar de Elias.
Como as personagens falam todas línguas diferentes e Elias
não percebe metade do que lhe dizem, Eden Is West ganha contornos chaplinescos,
como uma fábula sobre promessas que não se cumprem. Riccardo Scamarcio é fantástico,
mas, nesta maior ligeireza, Costa-Gavras deixa o filme arrastar-se no resort e
acaba por não lhe dar nenhum momento para mais tarde recordar.
6/10
Gosto do cinema de Costa-Gavras, mas ainda não conferi este trabalho.
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