Hollywood já é uma senhora velha, com velhos hábitos. A prova é esta curta avantgarde sobre um homem que chega ao burgo cheio de esperanças e ilusões e acaba como um extra de segunda categoria. O filme realça a superficialidade do cinema massificado com enorme criatividade.
sábado, 30 de agosto de 2014
domingo, 24 de agosto de 2014
The Killer (John Woo, 1989)
Apesar do sucesso que os filmes de acção costumam ter nas
bilheteiras, o género é frequentemente menosprezado pela crítica. John Woo é,
descontando a fase Hollywood no início do século, uma das excepções: A Better
Tomorrow, The Killer ou Hard Boiled recolheram desde o início elogios pelo
trabalho de câmara enérgico, a representação descomprometida da violência e a
exploração dos códigos de moral, amizade e honra, por vezes ambíguos, pelos
quais vive quem faz das armas o seu trabalho, seja de que lado da lei estiverem,
para além do escapismo e da diversão que não deixam de oferecer.
The Killer em específico é o mais dramático. Yun-Fat Chow,
colaborador frequente do realizador chinês, aparece como um assassino
respeitado com ligações às tríades de Hong Kong, cujos sentimentos se
intrometem no exercício da sua profissão quando se vê envolvido num banho de
sangue num bar e, para além de matar umas dezenas de malfeitores com um único
carregador, deixa quase cega uma cantora que lá trabalhava. Cada vez mais
alheado, decide tentar reparar os estragos e ajudá-la com tratamentos pagos e a
promessa de uma cirurgia correctiva, o que, por sua vez, o faz pensar que está
na hora de se retirar.
Claro que não será assim tão fácil, pois para além de um
detective estar na sua peugada, também o líder da máfia não vê com bons olhos o
quebrar de uma ligação que deve ser para toda a vida e o seu amigo mais antigo
da velha guarda trai-o. Essas três personagens secundárias representam três
níveis diferentes do espectro da ética, o primeiro tem padrões elevados e não
se importa de admitir que admira Ah Jong pela sua tenacidade, o segundo não tem
escrúpulos e o terceiro anda na corda bamba, inseguro das atitudes que tem de
tomar. As ameaças e os confrontos armados são muitos e intensos.
Woo usa a câmara lenta ciente da visceralidade mas também do
lirismo dessas cenas e o efeito é fantástico. Há uma set-piece que vai dum
assassinato público para uma perseguição de barco para fogo cruzado numa praia
para uma perseguição de carro para um stand-off no hospital – not bad. Apesar
de tudo isto, o filme é minado pela lamechice da banda sonora, por alguns
clichés dos policiais de Hong Kong, pela forma como a cantora é protegida como
uma criança e pela falta de sal dessa personagem. Em 1989 talvez passasse
despercebido. Hoje, podemos dizer que Hard-Boiled ou Face/Off são mais
equilibrados.
6/10
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
POSTERS: Jodorowsky's Dune (Frank Pavich, 2013)
Não tem data de estreia prevista para Portugal, mas o documentário sobre um filme que nunca foi, Dune por Jodorowsky, tem captado a atenção dos cinéfilos mais atentos. O que poderia ter sido deste filme se tivesse sido realizado pelo mexicano, em vez de David Lynch? Para começar, teria contado com Orson Welles e Salvador Dalí. Outros grandes artistas estiveram envolvidos na pré-produção. Para saber mais, só vendo o documentário! Por aqui, publico três grandes posters a ele relativos.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
On The Road (Walter Salles, 2012)
O impacto de On The Road é incomensurável e não se limita à
literatura. A vivacidade da escrita de Jack Kerouac e os seus relatos de uma
juventude despreocupada, libertina mas culta, constantemente a bordo de viagens
pelo país ou pelos delírios de todas as drogas possíveis e imaginárias, alargou
o imaginário de uma América vasta, atravessada por estradas sem fim à espera de
serem desbravadas. Se não fosse On The Road e a geração beat do pós-guerra os
The Beatles não teriam o mesmo nome, Easy Rider não teria sido possível e
talvez nem os hippies teriam aparecido pois faltar-lhes-ia esta referência dos
anos 50.
Desde que saiu, em 1957, que a possibilidade de uma
adaptação cinematográfica era explorada. O próprio autor chegou, na altura, a
tentar envolver Marlon Brando para ver se o projeto ganhava corpo, mas não se
concretizou. Francis Ford Coppola, Gus Van Sant e Joel Schumacher foram, ao
longo dos anos, apontados como possíveis realizadores, sendo que o primeiro até
detinha os direitos do livro. Curiosamente, este símbolo tão grande da cultura
americana materializa-se agora finalmente pelas mãos de um brasileiro, Walter
Salles, que com The Motorcycle Diaries no currículo não é nenhum estranho a
road movies.
Esta dificuldade em transportar On The Road para outro meio
é compreensível: escrito em cerca de 3 semanas num longo rolo de papel, com uma
linguagem fluída e cheia de calão, o livro vive das palavras, da falta de
história e da descrição de pessoas, paisagens e ambientes. Que o filme consiga
apresentar sintonia com o seu ritmo e energia já não é nada mau e, de resto, o
próprio realizador parece desculpar-se, ou, no mínimo, pedir para termos
expectativas realistas, quando usa uma das personagens, o erudito Old Bull Lee
(curta mas agradável aparição de Viggo Mortensen) para reforçar que “as
traduções são traições”.
Ao argumentista Jose Rivera calhou então o trabalho mais
ingrato. Apesar de ter tomado algumas liberdades quanto às relações de algumas
personagens, esses atalhos em nada encobrem a mentalidade excessiva de Sal,
Dean ou Marylou (se há alguma crítica justificável, é a falta de carisma de
alguns dos actores, Sam Riley excluído, claro), que tentam a todo o custo
preencher o vazio que percepcionam ser as suas existências. Essa fúria de viver
é jubilosa e triste ao mesmo tempo, e talvez ainda mais sexualizada do que no
livro. Tal como nos poemas de Allen Ginsberg (a inspiração para Carlo), há uma
rejeição dos tabus.
É verdade que as personagens se banham em hedonismo, mas On
The Road é mais do que uma sucessão de cenas de sexo, festas e viagens de
carro, é uma geração à procura da sua voz e a encontrá-la sem ter noção, é uma
carta aberta à grandeza e franqueza da América, mostrando que o país
responsável pelo capitalismo selvagem e os males que daí advêm, ontem como
hoje, é o mesmo que nos deu Duke Ellington ou o movimento dos direitos civis.
Após 50 anos de gestação, este filme é tão bom quanto poderia alguma vez ser.
Sinceramente, acho que, neste caso, é um dos melhores elogios possíveis.
7/10
terça-feira, 12 de agosto de 2014
FOTOGRAFIAS: Robin Williams
O merecido Óscar em 1997
Artista de rua em 1979, Nova Iorque
Foto promocional de Father's Day (1997)
Com o amigo Christopher Reeve
Com Terry Gilliam no set de The Fisher King
Inimitável.
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