Apesar dos 238 anos de
independência dos EUA, há algo a ser dito sobre a população yankee se dividir
mais em imigrantes e seus descendentes provenientes dos quatro cantos do mundo
e que não esquecem as suas origens do que propriamente se unir em torno de uma
identidade nacional singular. Quantas vezes, no cinema e na televisão, somos
alertados para o facto de esta ou aquela figura ter cabelo ruivo e sardas
porque os trisavós atravessaram o oceano Atlântico de barco a partir da Irlanda,
dever o sufixo “ski” do apelido graças aos vários êxodos da Polónia ou ser não
só americano, mas afro-americano?
Ellis Island tem, por isso, uma
mística própria. Plantada na baía onde se encontram os rios Hudson e East, em
frente a Manhattan, a pouca distância da Governors Island, onde se concentraram
maioritariamente serviços administrativos e militares ao longo dos tempos, e da
Liberty Island, onde se ergue destacada a Estátua da Liberdade, em que este
filme começa por se focar logo nos primeiros segundos, por ser um símbolo de
boas-vindas para quem vinha da Europa à procura de uma vida melhor, a Estação
de Imigração lá construída foi o primeiro local que milhões de pessoas pisaram
no país e é hoje um monumento nacional.
Ewa (Marion Cotillard) desembarca
em 1921, sem noção de que vai atravessar quase todos os compartimentos da ilha,
desde as filas de inspecção ao grande hall, passando pelas celas e o hospital,
onde a irmã tuberculosa é imediatamente internada. Tendo como único contacto
uns tios que lhe deram uma morada inválida, vá-se lá saber porquê (na
realidade, vem-se mesmo a saber, e o motivo não é nada digno), ela vê-se longe
de casa, só, abandonada e prestes a ser deportada, quando intervém Bruno
(Joaquin Phoenix). O que faz é pouco claro de início. Nada é de borla e Ewa tem
todo um historial de pouca sorte…
Extremamente carinhoso, ele vai
arranjando pretextos para a manipular e a arrastar para um mundo de clubes
eróticos e de prostituição. O estilo que começa por ser a fachada captivante de
um fraudulento típico, com várias mulheres debaixo da sua alçada, vai ficando
ameaçado pela atracção crescente que tem por Ewa e que gera nele um interessante conflito interior. Não lhe agrada vender o corpo da amada e muito
menos mantê-la perto convencendo-a de que a está a ajudar da melhor maneira a
pagar o tratamento e a alta hospitalar da irmã, mas como os seus sentimentos
não são retribuídos, a situação arrasta-se.
Não tarda a aparecer um terceiro
determinado a resolver este impasse. Emil (Jeremy Renner) é um ilusionista
primo de Bruno que também se apaixona por Ewa e lhe tenta oferecer um futuro
fora de Nova Iorque, talvez na Califórnia, a dois. As relações de família estão
tensas há muitos anos e, como sabemos desde Gangs Of New York, a América teve
uma infância violenta, pelo que vão rolar cabeças de certeza. The Immigrant não
surpreende e acredito que o melhor de James Gray ainda está para vir. Contudo,
o trio de protagonistas é de uma classe a toda a prova e a realização clássica
dá ao filme um aspecto intemporal.
8/10