Uma das fitas mais faladas da
edição de 2008 do Fantasporto, El Orfanato tem o mérito de cumprir com aquilo a
que se propõe: cativar a atenção do início ao fim, envolvendo quem o vê num
mistério com contornos muito pessoais para a personagem principal. Apesar do
nome de Guillermo Del Toro aparecer nos créditos iniciais, a sua contribuição
resume-se ao trabalho de produção, estando a realização a cargo de Juan Antonio
Bayona, na altura um singelo caloiro espanhol, agora talvez mais conhecido por
ter o drama The Impossible (2012) no currículo.
Pela sinopse – para quem está a
zero sobre a história, centra-se numa mulher que compra o orfanato onde passou
a sua infância, muda-se para lá com a família, e acaba por desenterrar segredos
do passado, ao mesmo tempo que o seu filho desaparece – talvez fique a sensação
de que se está a pisar terras já exploradas; The Haunting (Robert Wise, 1963),
The Others (Alejandro Amenábar, 2001), e, para quem se lembrar, Saint Ange
(Pascal Laugier, 2004), podem saltar à memória, mas garanto que nem por isso El
Orfanato é uma experiência menos aprazível ou surpreendente.
Todos os desenvolvimentos do
presente de Laura são um reflexo de várias fases da sua vida, pelo que, mais do
que um puzzle em resolução, com meia dúzia de sustos pelo meio, o enredo evoca
memórias difíceis e constrói uma espiral de degradação psicológica desta
mulher, cabendo ao espetador tentar perceber se isso é irreversível ou não e
até que ponto esse estado alimenta a sua imaginação. Belén Rueda, cara
conhecida de Mar Adentro (Alejandro Amenábar, 2004), consegue exprimir a
fragilidade de Laura de forma convincente e carrega a ação de forma admirável.
Nota-se muito cuidado em fundir
toques modernos com uma história mais tradicional, vê-se o aparecimento de
assistentes sociais, sabemos que uma criança tem VIH e, por outro lado, temos
aquele toque gótico característico de narrativas que revolvem em casas
antigas e enormes. Não há muito gore, mas há um nervosismo miudinho constante,
por vezes quase impercetível, que dá grande atmosfera. Há classe, que é algo
que falta no terror que é feito hoje em dia e que é tão apreciado nos clássicos
de Roman Polanski, em The Omen (Richard Donner, 1976) ou Don't Look Now
(Nicolas Roeg, 1973). A banda sonora é apropriada e memorável. Tudo somado, uma
boa surpresa, que faz da sobriedade, pormenor e ambiguidade as suas
palavras-chave.
8/10
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