Exprimir uma noção temporal numa
forma de arte talvez nunca tenha sido tão desafiante como é no cinema, porque é
possível capturar a sua passagem através de movimento visível. Vários
realizadores e críticos dedicaram extensas porções dos seus trabalhos a esmiuçar
a temporalidade. Andrei Tarkovsky escreveu que “a principal motivação do
cinéfilo é a procura do tempo: do tempo perdido, do tempo negligenciado, do
tempo a reencontrar.” Se é verdade que cada indivíduo tem a sua própria
sensibilidade no que respeita a esta dimensão, torna-se uma luta estabelecer um
compromisso entre o inter-relacionamento de momentos e um ritmo que os sirva, cativando a atenção do maior número de pessoas possível.
Francis Ford Coppola tem, com
subtil consistência, tentado oferecer significado à narrativa cinemática
através da exploração da passagem do tempo como é compreendida em diferentes
momentos da vida, para além de adaptar o seu estilo visual para encontrar o tom
correto de cada história. Os seus filmes são regularmente sínteses de
preocupações relacionadas com a idade. Recorrendo a uma linearidade precisa,
propõe-nos constantemente para análise frases, estados de espírito e memórias
que, uma e outra vez, ressoam no passado ou no futuro das personagens (que
estão sempre condenadas a uma contemporaneidade específica). Coppola privilegia
um trabalho de câmara estático e usa o espaço e a montagem de forma a criar a
ilusão de comprimir ou esticar o tempo para adicionar suspense. Cada momento
vale por si, nunca é um movimento de transição entre atos, mas um presente com
implicações e expectativas.
Em The Godfather, o realizador explorou
essa linearidade temporal em várias ocasiões com ações simultâneas, mostradas
em paralelo e não em sucessão, definindo, no primeiro capítulo, os dilemas
morais de Michael e a dualidade dos conceitos de família que herda e que
obrigam ao batizado da filha e à manutenção de estatuto através de homicídios
em cadeia (“do you renounce Satan?”), ou, no segundo capítulo, as
dissemelhanças entre pai e filho, com a mesma idade, a viver em épocas
distintas, implicando uma circularidade de estatuto e uma descontinuidade de
decisões na estrutura. Em Jack, o tempo adquire duas dimensões em si mesmo à
medida que o enredo evolui numa cronologia normal e Robin Williams envelhece
quatro vezes mais rápido. Dracula não é mais do que um amor repetido ad eternum
por um imortal. Com Youth Without Youth, explorou uma personagem que se torna
mais nova inexplicavelmente e pode, com isso, continuar o seu trabalho, que o
leva a civilizações cada vez mais antigas, até à origem da linguagem.
Os caprichos do tempo e as
técnicas cinemáticas nunca deixaram de estar em questão na carreira de Coppola,
o que faz dele um dos mais genuínos intelectuais do cinema. O seu propósito não
é um total realismo, nem uma fragmentação altamente estilizada, simplesmente a
gestão impercetível do âmago emocional de cada cena para ficarem como que
suspensas no tempo. Ao manipular a mise-en-scène e a pós-produção, ao acentuar
estas obsessões com personagens conscientes da brevidade ou da infinidade das
suas vidas, eleva a nossa perceção da passagem do tempo a um patamar comum,
onde somos confrontados com o valor do presente.
Sem comentários:
Enviar um comentário