“The
program you are about to see was compiled from the actual therapy tapes of Dr.
Ken Magid, a clinical psychologist specializing in the treatment of severely
abused children – children so traumatized in the first years of life that they
do not bond with other people. They’re children who cannot love or accept love.
Children without conscience, who can hurt or even kill without remorse. This
film shows the devastating effects of abuse on a child. It also shows that
victims can be helped. It is the story of a six and a half years old girl named
Beth.”
Quando um filme abre com um aviso destes, o melhor é engolir
em seco. Realmente, Child Of Rage não é uma visualização fácil. Apesar de
consistir maioritariamente de entrevistas gravadas pelo psicólogo infantil supramencionado
na privacidade do seu consultório, o teor das conversas entre ele e uma criança
com os olhos mais azuis e inocentes que se pode imaginar é chocante. Não só
isso, como também a facilidade dos relatos, sem qualquer sinal de remorsos, medo
ou consciência da desadequação e até perigosidade dos seus atos.
O diagnóstico é transtorno de apego reativo, uma condição
que pode ser associada a experiências traumáticas na infância e que levam ao
desenvolvimento de padrões de comportamento divergentes e de uma enorme
inabilidade para formar laços afetivos de qualquer tipo. Beth foi adotada,
juntamente com o irmão mais novo, Jonathan, pelos Thomas, Tim e Julia, que não
conseguiam ter filhos. Cedo se aperceberam dos graves problemas emocionais da
menina em especial, que mata animais com inaudita frieza, se masturba em
público, rouba facas e agride Jonathan nos genitais repetidamente.
Ao terapeuta, relata estes episódios e ainda um pesadelo
recorrente em que o pai biológico a viola quando tinha apenas 1 ano... Com
todos estes dados, o casal que a acolheu é aconselhado a colocar Beth temporariamente
num centro de terapia específico para crianças perigosas para si e para os que
as rodeiam, onde estão longe das figuras que aprenderam a desrespeitar e onde têm
de seguir regras estritas que lhes ocupam os dias e pretendem motivar as
respostas emocionais humanas que lhes foram negadas pelos abusos que sofreram.
Os métodos deviam ser explorados com maior detalhe, não só
para dar contexto à evidente recuperação que é exibida na entrevista final, em
que Beth chora com o doutor Magid ao relembrar a violência que infligiu no
irmão, em claro contraste com as conversas gravadas meses antes, mas também
para desmistificar as controvérsias que por vezes são levantadas quanto ao
papel da psicologia em casos destes. Child Of Rage é um documento chocante e
fascinante sobre realidades extremamente difíceis de abordar. É possível evitar
que as vítimas de hoje sejam os agressores de amanhã.
7/10
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