Nunca fui grande fã de Star Wars. Talvez seja a forma mais
justa de começar este texto. Enquanto ficção científica, é um universo
desprovido de extrapolações para o mundo real, não havendo quaisquer
comentários sociais ou culturais contemporâneos subentendidos, exceto a
inoperabilidade da democracia levada ao extremo por uma república com milhões
de vozes divergentes. Enquanto filme de aventura, o carisma das personagens e a
dimensão dos cenários geraram momentos icónicos de ação, repletos de reviravoltas,
ainda que com base em um maniqueísmo simplista, tirando Darth Vader, sendo por
isso, além do seu visual, a figura que mais se destaca, merecendo o lugar
central na trilogia anterior.
Isto é importante porque, mais do que qualquer Episódio até agora,
The Force Awakens apela à nostalgia de quem adquiriu uma ligação emocional
forte com a saga. As referências ao passado eram, obviamente, inevitáveis, mas
analisemos o contexto. 30 anos depois de Return Of The Jedi, no qual Vader
e Palpatine morrem, deixando a pairar a ideia de que o Império terá caído de
vez, somos agora confrontados com uma organização que parece ter herdado os
seus meios e fundos, mão-de-obra e vileza: a Primeira Ordem. A estética nazi-chic,
nomeadamente a organização irrepreensível, o líder inflexível que adota como braço
direito alguém que deve hesitar no último minuto e a procura pela arma perfeita,
não engana.
Apesar de acossada pela destruição planeada pelo lado negro
da Força na trilogia original, somos levados a concluir que a República terá
assistido impávida e serenamente ao surgimento de uma nova ameaça, cujo crescimento
foi tal que se apresentam, tão pouco tempo depois, com uma nova Death Star, que
suga a energia de sóis, concentrando-a num raio capaz de destruir planetas
inteiros. Um grupo de inconformistas, sob a liderança de Leia, concentra-se
clandestinamente para travar a luta a que a política vira a cara. Graças a um
punhado de coincidências oportunas, surgem heróis improváveis. A probabilidade
de virem a dominar a Força e de terem laços de sangue com os vilões ou com
antigos conhecidos é grande.
Se estiverem a pensar que isto é algo familiar é porque o
enredo é exatamente o mesmo de A New Hope. Há duas agravantes, em primeiro
lugar o efeito-surpresa que atingiu o cinema em 1977 é irrepetível, tornando
The Force Awakens previsível, e em segundo lugar, considerando os antecedentes,
não é minimamente credível que os factos se sucedam sem grandes variações em
relação a esse filme. Pode-se argumentar que também não se esperaria que a
Alemanha causasse duas Guerras Mundiais no espaço de 25 anos, contudo fica um
sentimento de este argumento reduzir o impacto dos Episódios IV, V e VI ao mínimo.
São quase irrelevantes na memória coletiva da galáxia, mas reciclados para não
comprometer a relação com os fãs.
Ver Han Solo, Chewbacca e os Skywalker com os cabelos
brancos é entretenimento de qualidade apenas para o espectador que já os
venerava. Para o resto, as personagens Finn e Rey são bem-vindas. John Boyega
interpreta um stormtrooper que rejeita ser um cordeirinho. Daisy Ridley é uma
sucateira cheia de carácter. O futuro é promissor para estes jovens atores, a
quem o humor ao estilo de Guardians Of The Galaxy assenta como uma luva, sem
esquecer a intensidade a que, ela em especial, se sujeita nas cenas com Kylo
Ren, um adolescente com tiques de Vader. Sem querer ser injusto com J.J. Abrams
e restante staff, visto que mais revelações se aproximam, The Force Awakens é,
numa palavra, competente.
6/10