Para muitos, Goldfinger é o ponto alto da passagem do agente
secreto James Bond para o cinema. A interpretação a cargo de Sean Connery, a
banda sonora com a voz de Shirley Bassey e a imagem da loira platinada morta
por sufocação depois de ter sido coberta em tinta dourada e abandonada numa
suite do fabuloso Hotel Fontainbleau em Miami são chamarizes eficazes. Não lhe
falta estilo nem ousadia. É inaugurada a tradição da sequência pré-créditos sem
relação com o resto do enredo, aqui completa com o ator escocês a envergar um
blazer branco com uma rosa vermelha na lapela e a segurar num cigarro no
preciso momento em que uma bomba por ele plantada explode nas redondezas,
porque “cool guys don’t look at explosions”. É usada a alcunha mais badalhoca
de toda a série, Pussy Galore, uma aviadora que lidera um grupo de aprendizas
femininas que só vestem licra justinha quando estão nos comandos. Várias
imagens de marca que hoje damos como garantidas tiveram a sua origem aqui.
Até agora nada de negativo, apreciando-se esta mistura de
mistério internacional, humor sarcástico e estilo extravagante, como é o meu
caso. O agente do MI6 que seduz todas as mulheres que lhe aparecem pelo caminho
e que resolve todas as ameaças do submundo do crime com o máximo de discrição é
entretenimento de referência. No entanto, sempre torci o nariz a este
Goldfinger, essencialmente pelo seguinte: James Bond é inútil nesta
história! Basta realçar que passa dois terços do tempo preso. A partir do
momento em que Oddjob, o capataz mudo com um chapéu assassino, vassalo do
milionário louco do título, apanha o nosso herói a espiar uma fábrica de
fundição de ouro, o papel deste resume-se a ter um laser perigosamente perto do
abono de família, levar porrada, ser preso, levar porrada e não conseguir
desativar uma bomba. Pelo meio, fica por determinar se convence Pussy Galore a
mudar de lado quando a viola (!) e a dar o alarme ou se esta era uma agente
infiltrada na quadrilha de Goldfinger desde o início.
Estar à mercê do mau da fita a certa altura faz parte da
receita de qualquer filme do 007, mas não é preciso levar isso a este exagero.
Já para não falar da risível tentativa de vingança do primeiro, que consegue
entrar armado num jato privado da CIA que é suposto levar Bond e a senhora Pussy
ao encontro do presidente dos EUA. Isto depois de o seu plano de arrombar o
Fort Knox, com recurso ao espalhamento de gás tóxico sobre a base militar que o
guarda, para matar milhares de soldados, avançando sem resistência para a
contaminação da reserva de ouro da maior potência mundial com radiação nuclear,
tornando-a inútil e aumentando exponencialmente o valor das barras que passou a
vida a contrabandear e a guardar, sair gorado. Apesar da sua relevância no
estabelecimento de ideias-chave deste universo cinemático, Goldfinger acaba por
ser o mais medíocre da era Connery.
5/10
Concordo. A reputação do filme é manifestamente exagerada.
ResponderEliminarO melhor é o tema titulo. Os tugas Belle Chase Hotel fizeram uma versão engraçada há uns anos atrás.
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