terça-feira, 20 de setembro de 2011

The Jazz Singer (Alan Crosland, 1927)

Juntar som e imagem revelou-se uma ambição e um desafio desde os primórdios do cinema. Enquanto os filmes-mudos eram um sucesso e povoavam o imaginário cultural das primeiras décadas do séc. XX com Charlie Chaplin, Buster Keaton ou Lillian Gish, inventores independentes e grandes estúdios tentavam já desenvolver processos que permitissem fazê-lo, essencialmente ao nível do som-em-disco, ou seja, ligando um gira-discos ao projector e sincronizando um vinil com as bobines. Nesse contexto, aparece o sistema Vitaphone da Warner Bros., que seria então usado, em 1927, no primeiro filme-sonoro de sempre: The Jazz Singer.

Essencialmente um filme-mudo com números musicais audíveis, The Jazz Singer é primitivo e ainda povoado por intertítulos. Jakie Rabinowitz é filho de um cantor eclesiástico judeu em Nova Iorque, que pretende para Jakie a mesma carreira. Este, no entanto, prefere o jazz. Em conflito com o pai, decide, ainda pré-adolescente, fugir de casa e perseguir os seus sonhos. Anos mais tarde, está transformado em Al Jolson (artista multifacetado famoso da altura escolhido para o papel principal), chama-se Jack Robin, está na iminência de atingir a fama como cantor popular e profere o primeiro diálogo do cinema ao dirigir-se à audiência dum bar para apresentar uma canção, com um "wait a minute, you ain't heard nothing yet!"

De volta a Nova Iorque, visita a sua mãe em casa e, numa cena verdadeiramente emotiva, os dois exibem uma ligação e um entendimento que nem anos de distância conseguiram derrogar. O reencontro com o pai é que não é tão pacífico. O velho deserda-o com facilidade, dizendo mesmo, a certa altura, que já não tem filho. Todavia, arrepende-se rapidamente, o remorso consome-o, a idade avançada não ajuda e ele fica gravemente doente, impossibilitado de cantar para a sua congregação num importante dia do calendário judeu, que coincidirá com a estreia dum espectáculo de Jack. Pressionado pela mãe e por amigos, o jovem vê-se num dilema moral: cantar na Broadway ou cantar na igreja? Seguir o seu caminho ou seguir a tradição de família?

Al Jolson dá o seu melhor em todas as cenas, enche o filme com a sua humildade e simpatia, o seu talento vocal e o seu talento como actor. Há um interesse amoroso, que nunca é consumado e que fica sempre em segundo plano, pois a carreira de Jack é mais importante. Não se esquecem as músicas, os passos de dança e muito menos o cantor em palco, maquilhado como negro, num momento hoje erradamente considerado racista por alguns, que mais não é que uma homenagem à cultura afro-americana, que teve em Jolson, na tela e fora dela, um profundo admirador e aliado. Para além da sua importância histórica, The Jazz Singer é também, e acima de tudo, um óptimo filme, um precursor técnico bem estruturado e com o coração no sítio certo.

8/10

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