Admito que a Nova Onda
Checoslovaca tenha o seu quê de fascinante, mas sempre tive alguma dificuldade
em sentir-me absorvido pelos filmes associados a este movimento. Parece-me
sempre que não tenho conhecimento suficiente para perceber as entrelinhas ou que
não tenho a sensibilidade necessária para apreciar o estilo, como se algo se
perdesse na tradução. Birds, Orphans And Fools é mais um exemplo. A obra mais
conhecida de Juraj Jakubisko é metade delírio surrealista, metade conto
juvenil, em que sequências joviais de improviso (uma característica destes
filmes) se entrelaçam em sequências da intimidade de um trio sem rumo
(juventude desnorteada é um tema recorrente destes filmes).
O título descreve perfeitamente o
conteúdo: dois órfãos vivem despreocupadamente nas ruínas de uma cidade, sempre
rodeados de hippies, pássaros e pobreza. Cedo arranjam companhia feminina em
Martha, uma cativante loira, que, tal como eles, há muito atirou pela janela
todas as regras da sociedade e convenções sobre o que é socialmente aceitável
para se dedicar a viver livremente. Estão todos resignados com a sua situação,
numa nação oprimida pelo comunismo soviético e onde as expectativas de uma vida
melhor são inexistentes. E depois de tanta fome, morte e guerra, é fácil
perceber porque se recusam a lutar, a controlar e a entrar em conflitos.
Há certamente imagens belíssimas,
de crianças sem futuro brincando com tudo o que lhes aparece à frente, viagens
de carro pelos campos da Europa oriental, um jogo de bilhar com ovos em vez de
bolas, nudez e, inevitavelmente, violência, que, no entanto, equivalem a pouco.
O filme vai de piada em piada, numa sucessão de movimentos de câmara
desconcertantes e músicas mexidas, como se de sketches se tratassem,
transmitindo bem a indiferença das personagens, mas dificultando a nossa
identificação com as mesmas. Apetece apenas ver algo acontecer, ou quanto mais
não seja, o mínimo de continuidade. Quando Jakubisko descobre um clímax, não
tem impacto.
Talvez seja de reter a procura
por um resquício de felicidade e de prazer em tempos de dificuldade, mas mesmo
essa procura é afetada pela infantilidade e superficialidade de quem a enceta.
Não deixa de ser um filme com um olhar único dum período assolapado e num país
entretanto dissolvido, mas que continua bem presente no mapa-mundi do cinema. Mais
avant-garde que Closely Watched Trains (Menzel, 1966), mais consistente que
Daisies (Chytilova, 1966), Birds, Orphans And Fools tem algum charme e bastante
mérito artístico, mas gostaria de ter encontrado maior recompensa emocional, já
que, tipicamente, este movimento oferecia pouco contexto histórico e narrativa.
Mas talvez o problema seja da tradução.
6/10
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