terça-feira, 15 de maio de 2012

Birds, Orphans And Fools (Juraj Jakubisko, 1969)


Admito que a Nova Onda Checoslovaca tenha o seu quê de fascinante, mas sempre tive alguma dificuldade em sentir-me absorvido pelos filmes associados a este movimento. Parece-me sempre que não tenho conhecimento suficiente para perceber as entrelinhas ou que não tenho a sensibilidade necessária para apreciar o estilo, como se algo se perdesse na tradução. Birds, Orphans And Fools é mais um exemplo. A obra mais conhecida de Juraj Jakubisko é metade delírio surrealista, metade conto juvenil, em que sequências joviais de improviso (uma característica destes filmes) se entrelaçam em sequências da intimidade de um trio sem rumo (juventude desnorteada é um tema recorrente destes filmes).

O título descreve perfeitamente o conteúdo: dois órfãos vivem despreocupadamente nas ruínas de uma cidade, sempre rodeados de hippies, pássaros e pobreza. Cedo arranjam companhia feminina em Martha, uma cativante loira, que, tal como eles, há muito atirou pela janela todas as regras da sociedade e convenções sobre o que é socialmente aceitável para se dedicar a viver livremente. Estão todos resignados com a sua situação, numa nação oprimida pelo comunismo soviético e onde as expectativas de uma vida melhor são inexistentes. E depois de tanta fome, morte e guerra, é fácil perceber porque se recusam a lutar, a controlar e a entrar em conflitos.

Há certamente imagens belíssimas, de crianças sem futuro brincando com tudo o que lhes aparece à frente, viagens de carro pelos campos da Europa oriental, um jogo de bilhar com ovos em vez de bolas, nudez e, inevitavelmente, violência, que, no entanto, equivalem a pouco. O filme vai de piada em piada, numa sucessão de movimentos de câmara desconcertantes e músicas mexidas, como se de sketches se tratassem, transmitindo bem a indiferença das personagens, mas dificultando a nossa identificação com as mesmas. Apetece apenas ver algo acontecer, ou quanto mais não seja, o mínimo de continuidade. Quando Jakubisko descobre um clímax, não tem impacto.

Talvez seja de reter a procura por um resquício de felicidade e de prazer em tempos de dificuldade, mas mesmo essa procura é afetada pela infantilidade e superficialidade de quem a enceta. Não deixa de ser um filme com um olhar único dum período assolapado e num país entretanto dissolvido, mas que continua bem presente no mapa-mundi do cinema. Mais avant-garde que Closely Watched Trains (Menzel, 1966), mais consistente que Daisies (Chytilova, 1966), Birds, Orphans And Fools tem algum charme e bastante mérito artístico, mas gostaria de ter encontrado maior recompensa emocional, já que, tipicamente, este movimento oferecia pouco contexto histórico e narrativa. Mas talvez o problema seja da tradução.

6/10

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