The Goonies é um daqueles
clássicos que marcou quem nasceu ou cresceu nos anos 80. Nessa altura,
Spielberg continuava a sua ascensão a rei e senhor de Hollywood com um
entusiasmo contagiante, adoptando os jovens como o seu público-alvo e
promovendo filmes de aventuras criativos, independentemente do género, desde
que tivessem uma voz contemporânea e fossem facilmente relacionáveis. Hoje
chega a ser difícil dizer qual é maior, se a vida nos subúrbios americanos enquanto
base da necessidade dos autóctones por histórias improváveis como esta, se a
marca destas imagens de bairros de casas repletos de miúdos com bicicletas,
walkmans e ténis Converse na percepção da própria cultura americana pelo resto
do mundo.
Assim ganhou o seu lugar na
história do cinema este grupo de amigos, tão diferentes e tão unidos que é
practicamente impossível, para quem teve uma infância pré-novas tecnologias,
não rever em Mikey, Chunk, Mouth ou Data um avatar de si próprio. Também podia
dizer pré-politicamente correcto, porque a razão de já haver aqui um certo
anacronismo não é apenas a liberdade que as personagens principais têm (sem os
jogos elaborados das consolas inventam as suas brincadeiras, sem os estímulos
visuais dos tablets ficam menos tempo em casa e sem as radiações dos telemóveis
têm menos controlo parental), mas ainda das pedagogias modernas que endeusam as
crianças e certamente apelidariam o “truffle shuffle” de bullying ou
censurariam todos os palavrões que se fazem ouvir.
Nem vale a pena ponderar no que
seria The Goonies se fosse feito agora, apreciemos antes o que continua a ser,
isto é, uma caça ao tesouro cheia de humor, grandes personagens e cenas
memoráveis. Os Walsh, como outas famílias em Astoria, vão ceder à pressão do
imobiliário e vender a sua propriedade para nesse lugar nascer um campo de
golfe. Apenas um milagre pode salvar a vizinhança da ganância, a amizade do
capitalismo. No sótão da casa, Mikey e companhia encontram um mapa com 500 anos
dum pirata chamado One-Eyed Willy que se terá refugiado na região com o seu
espólio, tendo provavelmente morto a sua tripulação para não ser vítima de
invejas e traições. Em simultâneo, Jake Fratelli fugiu da prisão e escondeu-se
com a mãe, o irmão e uma criatura por identificar num restaurante abandonado
perto do mar.
As peripécias sucedem-se,
especialmente quando o grupo entra à socapa nesse estabelecimento e descobre
uma passagem secreta para um sistema de grutas. Cada um deles desempenha um
papel fundamental na tentativa de ultrapassar as armadilhas que, deduzem,
One-Eyed Willy terá montado para afastar os curiosos. Contudo, a ideia de um
tesouro que podem usar para não terem de vender as suas casas alimenta-lhes a
perseverança, para além de, a partir de certo ponto, não poderem voltar atrás
por os Fratelli se inteirarem da lenda local. Destaco Robert Davi e a variação
cómica dos papéis de mau da fita que sempre desempenhou, algo que Joe Pesci
viria a imitar com sucesso em Home Alone. Ver The Goonies continua a ser diversão
garantida, para além de uma viagem a tempos mais simples.
8/10
Bom texto. É um filme que guardo boas recordações.
ResponderEliminarJá agora, se tiveres oportunidade visita o meu espaço que tem uma nova imagem:
http://cinemaschallenge.blogspot.pt/
: )
Obrigado! Leva mesmo de volta à infância.
EliminarPor acaso já tinha visto e gosto bastante, até do novo logótipo :)