Ainda que os anos 80 tenham sido um período rico em filmes de culto daqueles que são tão maus que acabam por ser espectaculares, esse não é tanto o caso de Conan The Barbarian. É certo que nesta altura surgiram muitas estrelas de cinema mais laureadas pelos seus músculos e capacidades físicas do que pelo seu talento como actores ou pela qualidade dos seus filmes, e Conan The Barbarian não deixa de ser, acima de tudo, a rampa de lançamento de Arnold Schwarzenegger, alguém que se insere com facilidade nessa categoria e que não passou a oportunidade de exibir aqui a sua forma física impressionante. Ainda assim, esta não deixa de ser uma grande aventura e uma produção com muitos méritos.
Herói maior do género de "sword & sorcery fantasy", Conan é um guerreiro de respeito num tempo longínquo. Feito escravo ainda criança, acaba por readquirir a sua liberdade à custa de muita violência e veneração por Crom, um deus cruel e imperdoável, central na cultura do aço. Embarca então numa busca pelo homem que matou a sua família e destruiu a sua aldeia, o poderoso feiticeiro Thulsa Doom (James Earl Jones). Apesar de o vilão não ser o esqueleto da literatura, a sua figura não deixa de impor respeito e semear medo, quer pela sua forma sibilina de discursar, quer pelos seus poderes mágicos. Numa cena, uma mulher suicida-se displicentemente em honra ao seu culto de cobras. Na ficção como na realidade, a influência dos grandes líderes dá que pensar.
Conan é um solitário silencioso, o que é adequado para o carrancudo Schwarzenegger. Tal como na banda desenhada, são os seus feitos que movem a acção e o filme torna-se muito visual, quase sempre apoiando-se na natureza ou nos cenários sumptuosos que o rodeiam para transmitir a sua sede de vingança e a incerteza do seu destino. Cada personagem, cada local parece esconder segredos e ameaças, tão inusitadas para Conan como para o espectador, ainda que nunca de forma tão tenebrosa como no papel. A partir do momento em que vemos uma mulher aliciá-lo com sexo para se transformar numa espécie de demónio vampiresco, pronta para o despedaçar à dentada, fica a sensação de que qualquer coisa pode acontecer.
Dada a sua pouca expressividade e aparente desdém por sentimentalismos, a relação amorosa de Conan com uma ladra, Valeria, poderia não passar de um fait diver supérfluo, mas o entendimento imediato que os dois estabelecem e a sagacidade dela acabam por revelar muito subtilmente um lado menos intenso de Conan, que noutras ocasiões não hesitara a tratar mulheres como pedaços de carne ou a não ter em consideração as opiniões de terceiros. Algo arrojado realmente, este filme, por várias vezes, mostra sem pudor o lado mais selvagem da era Hiboriana, não se coibindo mesmo de incluir uma orgia numa cena importante na busca de Conan. A podridão do culto de Doom é evidente.
O argumento não tem sempre a mesma força, decaindo um pouco nas cenas com o mago narrador, por exemplo, e o filme está algo datado, não parecendo agora tão sombrio ou fantasioso como talvez parecesse quando saiu, mas John Milius e a sua equipa fizeram um óptimo trabalho em termos de efeitos especiais e de utilização do espaço, tão importante na nossa percepção da história e dos protagonistas. A procura de Conan é, acima de tudo, pelo significado da vida num mundo corrompido por superficialidades, depois de lhe ter sido negado tanto durante tanto tempo. Afinal também há filmes de culto dos anos 80 com arquétipos ambulantes no papel de actores com alguma profundidade e qualidade.
7/10
É como dizes um filme de culto dos anos 80. O Conan the Destroyer já não tem tanta essência, mas mantém o entretenimento.
ResponderEliminarAbç
Provavelmente o melhor filme que fizeram do Conan. que foi estranhamente traduzido para cá como Conan e os bárbaros...
ResponderEliminarJohn Milius é um cineasta que se encontra esquecido, infelizmente, tanto este Conan, como "O Leão e o Vento" e o genial "Três Amigos" são um excelente retrato do valor deste cineasta, que pertenceu à "família" dos movie-brats.
ResponderEliminarRui Luís Lima
É um filme divertido assim como várias aventuras dos anos oitenta.
ResponderEliminarValeu a citação do Rui Luís sobre John Milius. Apesar de hoje estar esquecido, ele fez bons filmes como diretor, além de ser também roteirista de diversos longas, como "Apocalipse Now".
Abraço
Por acaso já tinha reparado que o Milius tinha sido escritor no Apocalypse Now e no Dirty Harry, o que é espectacular, mas nunca vi mais nenhum filme dele para além deste. Tenho de investigar ;) Também nunca vi a sequela, o que é uma lástima, considerando que o Conan era dos meus heróis preferidos quando era mais novo.
ResponderEliminarObrigado a todos pelos comentários!
A melhor adaptação cinematográfica de "Conan". Não é uma obra-prima, mas sem dúvida marcou uma geração e continua a gerar grande interesse.
ResponderEliminarCumprimentos,
Aníbal Santiago (http://bogiecinema.blogspot.com/)