segunda-feira, 3 de outubro de 2011

My Son, My Son, What Have Ye Done (Werner Herzog, 2009)

É curioso que David Lynch seja o produtor deste filme, pois My Son, My Son, What Have Ye Done está mais próximo da sua filmografia que da de Werner Herzog, o realizador. O que temos aqui é, então, um trabalho muito complicado, por um lado previsível e fanado, por outro lado bizarro e perturbador. Brad McCullum (Michael Shannon) enceta uma viagem ao Peru com amigos (um destino do agrado de Herzog), da qual volta sozinho depois de muito descuido na prática de canoagem. Durante o ano seguinte, o seu comportamento vai-se tornando cada vez mais errático e acaba por incorrer em matricídio. O filme é pouco convincente em mostrar a suposta involução psicológica de Brad, um zombie ambulante com zero de carinho pelos que o rodeiam, excepto pela sua mãe, na presença de quem se torna subserviente e pusilânime, e com zero de interesse em tudo o que faz, excepto numa peça sobre Orestes, na qual tem o papel principal.

É claro que Mrs. McCullum (Grace Zabriskie) o castrou, não fisicamente (presumo) mas mentalmente, criou sozinha o filho num ambiente de co-dependência e infantilidade ao qual Brad parece não querer ou conseguir escapar. Numa cena, depois de a sua noiva, Ingrid (Chloë Sevigny), lhe ter recomendado sair de casa, o jovem sugere mudarem-se os dois para a casa ao lado, ou para a seguinte, ou para a casa em frente. Claro que Ingrid não fica agradada, pois percebe que o deve afastar da influência maternal, mas pouco faz para isso ou para ajudar a curar as feridas que o sucedido no Peru eventualmente terá deixado em Brad. Ele parece sofrer duma apatia enervante (e este tipo de pessoas normalmente não anda a fazer viagens e peças de teatro, só que personagens bem pensadas não é o forte deste argumento), mas talvez não tão danosa quanto a apatia de Ingrid ou do director da peça, Lee (Udo Kier num registo frouxo), por exemplo. Andam com ele dum lado para outro, sempre preferindo ignorar os problemas de Brad a confrontá-lo com eles. Agora apenas têm a Mrs. McCullum talhada e embrulhada num saco de plástico, a SWAT a tentar tirar Brad de casa e café barato na mão, oferecido pelo excessivamente bondoso detective (Willem Dafoe) a quem têm de recontar o passado recente, que vemos em inúmeros flashbacks.

É, no entanto, difícil ver esta trapalhada toda e não ficar um pouco fascinado com alguns dos momentos mais esotéricos que Herzog plantou aleatoriamente. Num deles, Brad e o seu tio Ted estão num bosque coberto por neve a planear um anúncio e um anão deambula por perto. O enquadramento é tal e a estranheza é tanta que não deixa de ser interessante. Noutro ponto, uma câmara portátil digital filma em POV um mercado chinês, seguindo vários idosos, que vão olhando para a lente. Porquê? Não faço a mínima ideia, mas não deixa de ser interessante. São estes detalhes que fazem My Son, My Son, What Have Ye Done parecer mais David Lynch que Werner Herzog e, francamente, são os poucos pontos de relevo desta salgalhada. Sem rumo, sem textura, sem voz, este é um filme bastante intragável e completamente irrelevante.

4/10

IMDb 

Sem comentários:

Enviar um comentário