Num pico de popularidade e maturidade desde No Country For Old Men, os irmãos Coen optam por seguir para um remake. A decisão revela-se acertada: True Grit, um conto sobre os intricados caminhos da violência e do destino ambientado no velho oeste americano, serve na perfeição a clareza vitriólica do "two headed director".
Mattie Ross é uma jovem determinada, que pretende vingança pela morte do seu pai. Para o efeito, contrata não o marshal mais eficaz, não o mais justo, mas sim Rooster Cogburn, o mais cruel. Um Jeff Bridges zarolho entra então em cena. Se é verdade que os Coens conseguem sempre trazer ao de cima o ridículo da mais sisuda das histórias, muitas vezes graças a um ímpar sentido de ironia, também é verdade que poucos actores conseguem entender esse humor negro como Bridges, dar-lhe expressão e sentimento. Aqui, a sua presença é intimidante, mesmo quando se deixa levar pelo álcool ou se revela mais vulnerável e a sua relutância em ajudar uma pré-adolescente se transforma em profundo respeito pelas provas de coragem da mesma.
A evolução da relação entre os dois é cativante, ao que também não é alheia a grande interpretação de Hailee Steinfeld. Obstinada e inteligente, a jovem consegue estabelecer uma química impecável com os veteranos que a rodeiam e apesar da evidente maturidade de Mattie, há sempre uma réstia de inocência. Os seus objectivos são louváveis e é impossível não simpatizar com ela, mas está claramente a entrar em águas profundas demais para si.
Impressionante é o realismo e a reconstituição da época. Este filme era talvez inevitável, considerando as inúmeras referências ao western na carreira dos Coens (o narrador cowboy de The Big Lebowski, por exemplo), e o cuidado com que eles abordam o género e o homenageiam ao mesmo tempo é admirável. Eram tempos duros, com homens duros e expressões duras.
A linguagem, aliás, quer seja auditiva quer seja visual, sempre foi uma obsessão de Joel e Ethan. O filme soa à inexorabilidade da lei da bala, com os seus sotaques arcaicos, silêncios contemplativos e tiros ruidosos e aparenta uma rudeza que não deixa de ser evocativa, muito graças ao sempre esclarecido trabalho de cinematografia de Roger Deakins, não havendo um único plano descuidado ou desnecessário.
Simultaneamente, no seu âmago, True Grit acaba por ser também menos desiludido e negativo que trabalhos como Burn After Reading ou A Serious Man, onde todas as relações pessoais parecem condenadas ao fracasso e onde os dogmas e as superficialidades da sociedade moderna parecem sabotar os desejos e objectivos íntimos das personagens principais, quase como se os irmãos apenas conseguissem encontrar justiça e morais em épocas passadas e de menos facilidades.
Austero, cru, directo e memorável, esta é uma obra maior no trajecto de dois dos maiores realizadores da actualidade.
9/10
É sempre bom novidades no gênero Western e ainda com os irmãos Cohen na direção.
ResponderEliminarO filme está na lista para ser visto.
Abraço
Uma grande escolha actual (desde os anos 90) no que a Westerns diz respeito, isto combinado simultaneamente com as marcas dos Coen traz-nos um filme irreverente e original o suficiente para ser apreciado tanto pelo público como pela crítica, daí o seu sucesso. Eu gostei bastante, sobretudo da fotografia (divinal), da banda sonora (uma delícia) e dos diálogos, tão próprios e tão surpreendentes como só os Coens (e talvez Tarantino) sabem fazer. Mas o melhor mesmo do filme é as interpretações, capazes de ofuscar algumas desinspirações no trabalho de realização, coisa que os Coen já fizeram melhor, parece-me. Mas nada que diminua o todo.
ResponderEliminarabraço, e desde já os meus parabéns pelo blogue. Continua.
Não concordo quanto à realização, mas sem dúvida quanto ao resto, se bem que Tarantino está um patamar abaixo para mim, porque realmente tem muito talento mas falta-lhe polpa e não sou grande fã dos últimos trabalhos, que são basicamente banda desenhada filmada. Obrigado pelo apoio Jorge!
ResponderEliminarNão me reconheço na opinião quanto ao Tarantino, embora ache que compreenda, talvez a coisa para o meu lado seja ao contrário, isto no embate entre os Coen e Tarantino.
ResponderEliminarJá agora, faço-te um convite, se é que já não te fizeram...é o seguinte: Existe um grupo fechado no facebook intitulado Bloggers Cinéfilos, de que fazem parte diversos bloggers cinéfilos nacionais, como o nome indica. Na sua maioria tem lá quase todos que preenchem a actual blogosfera nacional cinéfila, existindo depois alguns, poucos (como eu), que apenas estão derivado de um convite, mas que partilham e expõe regularmente a sua paixão pela sétima arte. Posto esta breve explicação, gostaria de te convidar para seres membro do grupo, bastaria que tivesses conta no facebook e estivesses interessado, claro. Posso te dizer que diariamente circula informação, bem como partilha de conhecimentos sobre o que o cinema ofereceu, oferece e oferecerá...fico à espera então de uma resposta, positiva de preferência :)
abraço
Não conheço, mas claro que me parece muito bem e obrigado pelo convite! Podes mandar-me os dados para o email? :)
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