Mais alguém se parte a rir com este poster? Não sei se é intencional ou não, mas o aspecto extravagante dos anões combinado com toda uma pletora de expressões faciais fazem-me esperar uma comédia disparatada.
domingo, 30 de setembro de 2012
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
The Woman In Black (James Watkins, 2012)
Território fértil em criatividade e fantasia, a ficção de contornos góticos
foi uma influência óbvia na série Harry Potter, desde os cenários e ambientes
replicados à abundância de sotaques britânicos, em que sucessivas reviravoltas
amplificavam a urgência de combater forças do mal em rápido crescimento e, por
conseguinte, cada vez mais assustadoras. The Woman In Black, um genuíno conto
de terror no virar do século XIX, é o passo em frente mais lógico e sustentável
que Daniel Radcliffe podia ter desejado para a sua carreira cinematográfica.
Ainda que o tom e a austeridade do sétimo e último capítulo da saga do feiticeiro
com uma cicatriz em forma de relâmpago na testa sejam incomparáveis com o
primeiro, é aqui e agora que o actor amadurece e constrói por cima do que já
fez. Sempre em luto, mas agora pai viúvo em vez de adolescente órfão, Radcliffe
é Arthur Kipps, um solicitador especializado em testamentos, incumbido de
organizar a papelada existente numa mansão abandonada que tem de ser vendida,
na costa nordeste inglesa, tendo para isso de deixar o filho em Londres com uma
ama por uns dias.
Numa sequência inicial capaz de rivalizar com a de Antichrist (Lars von
Trier, 2009) para o prémio de mais deprimente de sempre, percebemos que todas
as crianças da história estão sob ameaça de morte, restando saber de quem e
porquê. Em Crythin Grifford, a população acha que as respostas estão na casa,
pelo que a presença de Kipps, prestes a remexer no passado, não é bem vista. O
seu único conforto é o cepticismo do Sr. Daily, o ricaço da região, que se
recusa a acreditar em histórias de fantasmas, apesar de ter sido directamente
afectado pela alta taxa de mortalidade infantil da vila.
Kipps não é tão seguro de si mesmo e a verdade é que, aberta a residência, os
encontros paranormais e os acontecimentos macabros sucedem-se. O realizador
James Watkins não é estranho a este género e o entusiasmo e a segurança com que
cria e explora o sentimento do medo está bem vincado numa set-piece genial de
20 minutos do protagonista a explorar a Eel Marsh House à noite. É como uma
viagem numa casa assombrada, desprovida de diálogos, com iluminação frouxa e
uma parafernália infinita de sustos, a fazer lembrar filmes mudos tipo Vampyr
(Carl Th. Dreyer, 1932).
Há muito que não saltava tantas vezes da cadeira. A qualidade estende-se a
todos os níveis de produção, da fotografia (fantásticas as visões no nevoeiro e
as primeiras imagens dos pântanos da zona), ao guarda-roupa e design (que
contribuem para uma reconstituição irrepreensível da época, aparecendo com
destaque pormenores como o advento do automóvel, que ainda confunde alguns
populares mas ajuda Kipps a resolver o mistério principal, e a escultura
fúnebre Angel Of Grief de William Wetmore Story, 1894). Mas, claro, quem
carrega o filme é Radcliffe.
Não é difícil prever-lhe um futuro de sucesso, não pela fama atingida ao
tornar-se a cara de um fenómeno literário, mas porque há uma certa dignidade na
sua postura abatida e olhar triste, como o próprio filho no filme chega a
notar, através dos seus desenhos, que faz dele perfeito para estes papéis.
Quanto à mulher de preto, é uma personagem amarga. Não há nada pior que perder
alguém que amamos, e o negrume da sua história invade todos os frames, excepto
talvez os últimos, em que um sorriso aparece, deixando-nos cara a cara com uma
resolução emocional ambígua - o que se impõe em elucubrações místicas.
9/10
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
This Is England (Shane Meadows, 2006)
Uma das músicas mais curtas, mais simples e mais cinemáticas dos The Smiths.
domingo, 23 de setembro de 2012
Il Posto (Ermanno Olmi, 1961)
Ermanno Olmi autoproclama-se um inversor do neorealismo, o que
constitui uma de duas razões que me levam a duvidar da validade do seu espírito
de crítica. Trabalhando o dia-a-dia de pessoas comuns e a adequação individual
à sociedade em redor, com intenção de capturar, ao invés de dramatizar, a
verdade, nunca abdicando de filmar no local ou de utilizar não-actores, fica a
sensação de que dificilmente alguém se inseriria melhor no género do que ele
próprio. Nenhum exemplo será tão bom quanto Il Posto, um filme simples que não
abdica do comentário social.
Seguindo um jovem residente nos arredores de Milão em processo de
candidatura a emprego numa grande empresa da cidade da Lombardia, Olmi consegue
desde cedo atingir um nível de grande perspicácia quanto à monotonia e assepsia
física e emocional dos processos e ambientes de trabalho modernos, feitos de
testes e tarefas intermináveis com propósitos ininteligíveis e com pouco espaço
para relações humanas relevantes. Felizmente para Domenico, conhece Antonietta
antes que se possa processar qualquer tipo de estandardização de sensibilidade.
O filme acaba por ter duas fases: numa primeira, impera a dúvida sobre
a colocação ou não dele nos quadros da empresa. Aprovado, começa como
mensageiro e depois passa a escriturário. Numa segunda, questionamo-nos sobre o
futuro em conjunto destes jovens. Aqui já não temos resposta. Apesar do óbvio
entendimento entre eles, parece haver uma terceira entidade invisível a
conspirar contra eles, colocando-os ao serviço em edifícios diferentes,
separando-os à hora de almoço na cantina e impedindo-os de se encontrarem no
baile de fim do ano.
É aqui que, voltando ao início, faço outro reparo e acho que Olmi perde
um bocado as rédeas do filme, no seu esforço de mostrar um vislumbre do
possível futuro de Domenico, que não é senão o negro presente dos seus colegas
mais velhos, uma vida solitária e sem estímulos. A percepção do potencial
desumanizador de um mundo urbano ultra burocrático e regularizado é
perfeitamente suportada pela monotonia do quotidiano, do preto e branco e do
estilo quase documental, não precisando de muletas como personagens secundárias
irrelevantes.
O argumento passa a andar à deriva quando decide que é necessário maximizar
o alcance e temos pistas de intrigas e depressões entre funcionários. A dada
altura, chega a festa da companhia, a que Antonietta acaba por não ir, uma
sequência belíssima com algum embaraço e humor, mas na qual o foco alterna
entre a diversão agridoce de Domenico com um olhar superficial e desinteressante
sobre outros convidados. É fazer demais, e quando, já no escritório, se luta
pela secretária melhor de um homem recentemente falecido, a imoralidade é
universal e não precisa de background.
Já em I Fidanzati tinha ficado com a impressão de se estar a
complicar o que é simples. É a prova de que há uma linha que separa as pequenas
ideias que conseguem adensar uma história eficazmente das que acabam por
enublá-la. Afinal, um emprego seguro não me parece nada mau e quem sabe o que o futuro trará. Il Posto não deixa
de ser historicamente relevante, por se ver uma Itália pacífica e em
desenvolvimento rápido nos anos 50-60, e emocionalmente genuíno, pela calma
atenção prestada ao quotidiano. É o L'Eclisse (Michaelangelo Antonioni, 1960)
do proletariado e com uma nota de esperança, intencional ou não.
7/10
sábado, 22 de setembro de 2012
NOTÍCIAS: Plano Nacional De Cinema
O Plano Nacional de Cinema arranca já este ano lectivo em 23 escolas. Polémicas e escolhas à parte, parece-me inegável que o projecto é positivo. O cinema é arte mas também é História e local de aprendizagem. As propostas são as seguintes:
Segundo Ciclo:
- Estória Do Gato E Da Lua (Pedro Serrazina, 1997) - Curta
- The Nightmare Before Christmas (Henry Selick, 1993)
- A Bola (Orlando Mesquita, 2003) - Curta
- Com Quase Nada (Carlos Barroco, Margarida Cardoso, 2003) - Documentário
- Aniki-Bobó (Manoel De Oliveira, 1942)
- As Coisas Lá De Casa (José Miguel Ribeiro, 2003) - Curta
- The Kid (Charlie Chaplin, 1921)
- E.T. (Steven Spielberg, 1982)
- Where Is My Friend's Home? (Abbas Kiarostami, 1987)
Terceiro Ciclo:
- História Trágica Com Final Feliz (Regina Pessoa, 2005) - Curta
- Corpse Bride (Tim Burton, 2005)
- Saída Do Pessoal Operário Da Fábrica Confiança (Aurélio Da Paz Dos Reis, 1896) - Curta
- Hugo (Martin Scorsese, 2011)
- Singin' In The Rain (Stanley Donen, Gene Kelly, 1952)
- Shane (George Stevens, 1953)
- Adeus Pai (Luis Filipe Rocha, 1996)
- Edward Scissorhands (Tim Burton, 1990)
- Romeo + Juliet (Baz Luhrmann, 1996)
- A Suspeita (José Miguel Ribeiro, 2000) - Curta
- O Barão (Edgar Pera, 2011)
- Outro País (Sergio Trefaut, 2000)
Ensino Secundário:
- Persepolis (Vincent Paronnaud, Marjane Satrapi, 2007)
- A Noite (Regina Pessoa, 1999) - Curta
- Douro, Faina Fluvial (Manoel De Oliveira, 1931)
- Jaime (António Reis, 1974)
- Rafa (João Salaviza, 2012) - Curta
- City Lights (Charlie Chaplin, 1931)
- Les 400 Coups (François Truffaut, 1959)
- Senhor X (Gonçalo Galvão Teles, 2010) - Curta
- L'Esquive (Abdellatif Kechiche, 2003)
- Belarmino (Fernando Lopes, 1964) - Documentário
- Fado Lusitano (Abi Feijó, 1994) - Curta
- Les Glaneurs Et La Glaneuse (Agnès Varda, 2000) - Documentário
- Le Voyage Dans La Lune (Georges Méliès, 1902) - Curta
- O Estranho Caso De Angélica (Manoel De Oliveira, 2010)
- Os Salteadores (Abi Feijó, 1993) - Curta
- Torn Curtain (Alfred Hitchcock, 1966)
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
LISTAS: Andrei Tarkovsky
Os 10 filmes preferidos de Andrei Tarkovsky (em 1972):
- Woman In The Dunes (Hiroshi Teshigahara, 1964)
- Mouchette (Robert Bresson, 1967)
- Persona (Ingmar Bergman, 1966)
- Seven Samurai (Akira Kurosawa, 1954)
- Ugetsu (Kenji Mizoguchi, 1953)
- City Lights (Charlie Chaplin, 1931)
- Wild Strawberries (Ingmar Bergman, 1957)
- Nazarin (Luis Buñuel, 1959)
- Winter Light (Ingmar Bergman, 1963)
- Diary Of A Country Priest (Robert Bresson, 1951)
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
The Dark Knight Rises (Christopher Nolan, 2012)
É impressionante a dimensão que os últimos filmes do Batman atingiram, não
só em termos de bilheteiras, sendo que The Dark Knight Rises é o segundo desta
trilogia a ultrapassar os mil milhões de lucros, mas especialmente em termos de
alcance e espetacularidade. Lembro-me de este ser o meu super-herói preferido
quando era mais novo, em parte porque os seus únicos superpoderes são o treino
físico e a engenharia, em parte porque Gotham sempre me pareceu o sítio mais
negro e mais perigoso à face da terra. Lembro-me de quadradinhos cheios de
sombras e sangue, ruas imundas e vilões desfigurados. Lembro-me de achar que,
mesmo não desgostando do que o Tim Burton tinha feito, ainda estava para vir o
dia em que algum filme conseguisse captar o negrume e o sentido de ameaça
constante que transbordava da banda-desenhada. Hoje já não posso dizer o mesmo
nesse aspecto.
Oito anos depois dos eventos de The Dark Knight, a cidade está em paz.
Harvey Dent tornou-se um mártir da luta contra o crime e Batman um vilão
inexplicavelmente desaparecido. Na realidade, as provações do passado
debilitaram Bruce Wayne física e psicologicamente, mas os prenúncios de uma
"tempestade" preocupam-no. O submundo agita-se e, nos esgotos, um
antigo membro da Liga das Sombras, Bane, coordena um novo movimento terrorista.
Como Christopher Nolan admitiu, o tema predominante é a dor, e é de admirar que
a maior extravagância de efeitos especiais da sua carreira acabe também por ser
uma das mais dramáticas. A morte de Rachel parece insuperável, a intrepidez e
força de Bane revelam-se avassaladoras e a vontade de Alfred de proteger o seu
último amo de andanças que este poderá não mais aguentar levam Wayne a bater no
fundo em muitos sentidos.
Michael Caine tem mesmo a melhor interpretação aqui, com a personagem menos
glamorosa de todas mas a que esteve sempre mais próximo do herói do que
qualquer outra e consegue portanto prever com mais claridade que ninguém o
pior. Comunicar os seus receios, empilhados durante anos de serviço, com a
emoção de quem se preocupa e quer o melhor, e receber incompreensão como
resposta é a cena mais simples e mais visceral de todas. Esta é a grande
diferença em relação a The Dark Knight: o incessante jogo de gato e rato com o
Joker é substituído por uma procissão de eventos com destino a um apocalipse,
trazendo uma implacabilidade sem precedentes. É verdade que este salto de uma
rivalidade mitológica passível de ser prolongada ad infinitum para uma
conclusão pode ser demasiado definitivo num universo com tantas histórias, mas
não deixa de ser arrojado e lógico.
Desde o espectacular assalto a um avião da CIA às visões mais cataclísmicas
de Gotham (maioritariamente Nova Iorque, assumido sem pudor com establishing
shots do novo World Trade Center) é notório quão mais elevada é a parada para
os seus cidadãos, o caos já não é suficiente, o objectivo de Bane é a
destruição através da tortura, o combate de Batman e dos seus aliados, novos e
antigos, não é só contra o crime, mas contra a revolução, e há escolhas para
serem feitas. Aqui entra em evidência o maior triunfo de Nolan, que se serve da
intemporalidade de uma cidade ficcional permanentemente dividida entre forças
do mal palpáveis por se reduzirem a formas tão reais de corrupção (na economia,
na política, etc.) e violência (com criminosos de meia tigela, assaltantes de
bancos, etc.) e forças do bem credíveis por se reduzirem a polícias comuns ou a
um mascarado tão humano, para a dotar de uma subversiva contemporaneidade.
Com os países ocidentais em recessão, as suas sociedades em estagnação
cultural e as populações em clivagem de 99% contra 1%, são tempos de
incertezas. Bane é um beco sem saída, que oferece um meio de libertar
frustrações mas nenhuma solução sustentável. Selina Kyle (Anne Hathaway
perfeita para o papel), avisa Wayne de que, em breve, os ricalhaços como ele
vão ser confrontados com o facto de viverem em abundância enquanto o resto tem
de remediar, por regra. Ver a bolsa ser destruída por metralhadoras pode ser
doentiamente satisfatório. Sendo o capitalismo a base do nosso sistema, é um
pensamento assustador. The Dark Knight Rises não precisava de ser um fim, mas,
a sê-lo, faz a ponte que se impunha até Batman Begins e desenvolve-se com uma
ambição enorme, que Nolan gere com a sua lacónica competência. É o meu preferido
da trilogia.
9/10
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
CURTAS: North Atlantic (Bernardo Nascimento, 2010)
Esta curta portuguesa concorreu ao Your Film Festival, promovido pelo site Youtube e com o patrocínio de Ridley Scott. Não ganhou, mas é, inegavelmente, um grande trabalho. Vejam!
terça-feira, 18 de setembro de 2012
sábado, 15 de setembro de 2012
December Boys (Rod Hardy, 2007)
Daniel Radcliffe interpreta um órfão
- o alcance deste rapaz é incrível. Pelo menos o casting não podia ter corrido
melhor, é difícil negar o seu talento para este tipo de papéis e a sua presença
em nada minimiza o filme, antes pelo contrário. December Boys trata de um
orfanato católico, perdido no interior da Austrália nos anos 60, que passa a
ter a possibilidade de mandar de férias os seus inquilinos, para uma pequena
localidade piscatória. Os primeiros a embarcar nessa oportunidade inédita de
viajarem até à costa são os 4 miúdos com aniversário em Dezembro, ou seja,
Maps, Misty, Sparks e Spit.
A história é narrada pelo segundo,
idoso e fora de câmara, como que recontando a sua infância ingénua e invulgar a
uns possíveis netos. O filme começa por mostrar, com agradável neutralidade, a
calma vida no asilo, onde, apesar das regras das freiras, não deixava de haver
espaço para se crescer saudavelmente e para comportamentos transgressivos de
vez em quando, que também fazem parte da idade. Não vilificar este ambiente é
uma decisão acertada quando é suposto a nostalgia mostrar o caminho, e desde
cedo vieram-me à memória Picnic At Hanging Rock e Walkabout.
Alegres mas confinados e alojados
no meio de nenhures, sair dali temporariamente é uma ideia que nunca deixa de
fascinar os amigos, mas essa gratidão pela oportunidade é demais evidente durante
a travessia pelo deserto até ao mar, em que belas imagens do território
australiano se sucedem, evocando a imensidão do mesmo. Misty arregala os olhos
sonhadores atrás dos óculos. Nem 10 pessoas moram na baía que os acolhe e 2
delas são o bondoso casal McAnsh, que lhes oferecem residência e disciplina
suficiente para contrabalançar a liberdade inédita.
Enquanto os mais jovens, em
especial Misty, orientam esforços para que um deles possa ser adotado pela
francófona Teresa e o motoqueiro circense Fearless, um par amoroso impedido de
ter filhos, a atenção de Maps, mais velho e noutra fase do seu crescimento, é
desviada para uma rapariga, Lucy. Todo o embaraço característico de Daniel
Radcliffe se adequa à personagem, vê-se logo no primeiro contacto que tem com
Teresa (saindo da água, nua, para oferecer aos miúdos protetor solar). Está em
idade de começar a interessar-se pelo sexo feminino mas é demasiado desajeitado,
pela falta de prática.
O argumento consegue ser meigo
mesmo quando confronta as vivências infantis do quarteto com temas menos
inócuos, como o cancro. Estabelece também com sucesso a amizade forte que une
os órfãos e mesmo quando se desentendem parece que nunca perdem noção de que
estão no mesmo barco. Chega a ser especialmente tocante a forma como acabam por
apoiar Misty para que este ganhe os pais por que sempre desejou. É nesta altura
que há uma reviravolta que estraga toda a experiência do filme, com Misty a
preferir voltar para as freiras depois de tantas preces para ser abençoado com
a família perfeita.
Tudo indicia a permanência de
Misty na baía, passamos todo o tempo a desejar que seja adotado, porque é o que
ele quer e merece, para, no fim, ele rejeitar isso tudo e é suposto
aceitarmo-lo com a maior leveza e compreensão possíveis. Nunca vi um filme
criar tanta expectativa e depois dizer "meh, deixem lá, se calhar é melhor
continuar como estava". É um desperdício da simpatia dos atores e da
fotogenia da Austrália. Ficam as brincadeiras no areal, os primeiros beijos e
amores, o potencial de Daniel Radcliffe e Teresa Palmer, o espírito de
inocência e descoberta, tão difícil de descrever, tão bem captado aqui.
6/10
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Círculo de Críticos Online Portugueses
"O CCOP é um grupo seleccionado de críticos online de cinema portugueses, cuja accção se centra essencialmente na classificação dos filmes estreados mensalmente nas salas de cinema portuguesas, de forma a produzir um conjunto de tops mensais, com oportunos dados estatísticos."
Orgulho-me em informar que O Narrador Subjectivo faz agora parte deste conjunto de cinéfilos e agradeço aos outros membros por me terem seleccionado. Podem consultar o blog do projecto aqui.
Get to da choppa!
TRAILERS: Lincoln (Steven Spielberg, 2012)
Lincoln, o novo filme de Steven Spielberg, sobre o presidente americano que aboliu a escravatura no país, depois da guerra civil. Virá ai mais uma nomeação para Daniel-Day Lewis?
domingo, 9 de setembro de 2012
Zero For Conduct (Jean Vigo, 1933)
Talvez Jean Vigo tenha sido o pioneiro do realismo poético francês no
cinema dos anos 30. Afinal, apesar da sua morte prematura aos 29, tendo apenas
uma longa-metragem no currículo, apesar das dificuldades que encontrou para
financiar os seus projectos e apesar da relativamente baixa popularidade dos
seus trabalhos na altura de lançamento, só algum tempo depois de Zero For
Conduct sair é que começaram a aparecer outros filmes com o mesmo sentido
estético, acessível mas por vezes propositadamente artificial e lírico, como
Pépé Le Moko (Julien Duvivier, 1937), La Bête Humaine (Jean Renoir, 1938) e Le
Quai Des Brumes (Marcel Carné, 1938).
Baseado nas suas próprias experiências em internatos masculinos, sinal
prematuro de um autor em potência, Vigo desenvolve em 41 minutos um retrato que
consegue ter tanto de escrutinador como de melancólico, e onde a sua ilimitada
criatividade e jovialidade estão em exposição, à medida que 4 rapazes se
divertem ao longo do ano a planear gloriosas diabruras e vão sendo punidos por
elas com a rigidez das regras da instituição que os acolhe. A aproximação do
dia de celebração do aniversário da escola perfila-se como a oportunidade
perfeita para o derradeiro acto de rebeldia contra a repressão adulta,
personagens patéticas sem fogo de vida.
O que é mais impressionante nesta curta são os pequenos pormenores de
realização, alguns dos quais custa a crer que alguém possa ter imaginado há
tantas décadas atrás, sendo o mais óbvio a inclusão de animação. O professor
mais liberal do colégio tenta esquissar um banhista ao mesmo tempo que faz o
pino sobre a sua secretária e a turma faz trinta por uma linha na sala. Outro
responsável interrompe a aula e, na folha, o cartoon perde o fato-de-banho e a bóia
e transforma-se numa figura mais respeitável, em muito parecida com o ditador
Napoleão. Hoje vemos a influência destes segundos de filme em Kill Bill
(Quentin Tarantino, 2003-04) ou Harry Potter And The Deathly Hallows (David
Yates, 2010-11).
Aliás, a anarquia da infância, misturada com uma grande ingenuidade
relativamente ao mundo em redor, as salas de aula barulhentas, as
desobediências ao autoritarismo, a por vezes cruel honestidade das crianças,
tornou-se de tal forma num tema recorrente, até num dos clássicos de outra onda
cinemática conterrânea posterior, Les 400 Coups (François Truffaut, 1959), que
a pretensão semiautobiográfica de Vigo se assume agora como visionária. Apesar
da selecção estranha de planos aqui e ali (close-ups desnecessários e mais), as
ideias do realizador, que se estendem também ao uso de slow-motion para um
ambiente mais surreal e nostálgico, são ainda hoje replicadas e eficazes.
O tom humorístico também ainda não perdeu o seu efeito. Talvez os
homens sejam mesmo mais primitivos e coisas como chatear amigos que estão na
sanita ou ver anões rezingões terão sempre piada, seja em mil novecentos e
troca o passo ou no século XXI, seja com 8 ou 80 anos, mas a verdade é que Zero
For Conduct consegue sacar gargalhadas. Quando não é assim, obriga, pelo menos,
a fantasiar com tempos idos, de maior inocência, porque, acima de tudo, fica a
melancolia. Acaba por ser frustrante que não seja mais longo e gostaria de ver
os miúdos em ambiente familiar, no fundo mais espessura na história, mas
reconheço que o objectivo não é esse - apenas recordar, com saudade.
8/10
sábado, 8 de setembro de 2012
NOTÍCIAS: Veneza 2012
Numa cerimónia confusa e pautada por equívocos, o sul-coreano Ki-Duk Kim acabou por sair de Itália com o prémio máximo do festival de Veneza, tendo ganho o Leão de Ouro com o seu novo filme, Pieta. A decisão não terá sido fácil e há relatos de que The Master de Paul Thomas Anderson chegou mesmo a ser escolhido como vencedor, mas as regras do festival determinam que não podem ser atribuídos mais de 2 prémios por filme, tendo Philip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix partilhado a distinção de melhor actor e Anderson arrebatado o Leão de Prata para melhor realizador. A entrega deste último gerou um momento constrangedor, tendo Ulrich Seidl sido inicialmente anunciado como o destinatário, só para ver o troféu ser-lhe arrancado das mãos pelo júri em pleno palco, quando se aperceberam que tinham chamado afinal o vencedor de outro prémio. Em destaque:
Leão de Ouro: Pieta de Ki-Duk Kim
Melhor Realizador: Paul Thomas Anderson (The Master)
Melhor Actor: Philip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix (The Master)
Melhor Actriz: Hadas Yaron (Lemale Et Ha'Chalal)
Melhor Fotografia: Apres Mai de Olivier Assayas
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Balls Of Fury (Robert Ben Garant, 2007)
Cá está uma palhaçada com orgulho disso mesmo e que se está a marimbar para o bom gosto - estou a falar de Balls Of Fury, o melhor filme de ping-pong alguma vez feito (quanto mais não seja pelo facto de ser o único de que me lembro sobre o assunto). Cereja no topo do bolo: Def Leppard's greatest hits a bombar.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
CITAÇÕES: To Live And Die In L.A. (William Friedkin, 1985)
Richard Chance (William Petersen): Just walk.
Thomas Ling (Michael Chong): Why?
Richard Chance: Why? Because if you don't I'll blow your fucking heart out.
Subscrever:
Mensagens (Atom)