quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Selma (Ava DuVernay, 2014)

Selma, a cidade no Alabama que foi palco de uma das mais significativas acções de protesto contra o racismo nos EUA e em prol da garantia de que a população afro-americana podia votar, dá o nome a este filme onde Martin Luther King, a voz mais pacífica e poderosa do movimento dos direitos civis nos anos 1960, tem de dividir protagonismo com Oprah Winfrey, que parece ter aceitado colocar-se como produtora apenas se tivesse um papel com o máximo de destaque e o mínimo de trabalho possível, aparecendo proeminentemente quatro ou cinco vezes quase sem uma única fala, e se recebesse uma nomeação aos Óscares nessa posição. A apresentadora tem todo o direito de recuperar o seu lugar como actriz no cinema, onde foi revelada, graças a Steven Spielberg, em The Color Purple, muito antes de oferecer carros à audiência e patrocinar médicos dúbios no seu programa televisivo, contudo também tem de perceber que, com isso, gerou para si mesma uma personalidade que é difícil de dissociar em ficção e que distrai.

Mas, voltando atrás, MLK encontra em Selma o cenário perfeito para espicaçar a consciência do mundo, em especial do mundo branco, para a verdadeira dimensão da segregação no país, em especial no sul. Sob o lema “negociar, protestar, resistir”, organiza uma marcha em direcção à capital estadual, contando com a retaliação do xerife do condado Jim Clark e do governador Geroge Wallace, que se opõem às mudanças sociais em desenvolvimento. Depois de uma primeira tentativa, repelida ao fim de poucos quilómetros por causa de um bloqueio policial violentíssimo na ponte Edmund Pettus, registado e amplamente relatado pelos jornais e noticiários da altura, e uma segunda, com ainda mais pessoas, pretos e brancos, a ser abortada pela personagem principal no mesmo local, é apenas à terceira, algumas vítimas depois e já com apoio legal, garantido pelo juiz do tribunal federal distrital, que o destino é alcançado. Os eventos foram fundamentais para que o presidente Lyndon B. Johnson aprovasse leis que inviabilizaram a descriminação nas urnas.

Em geral, o argumento segue, para além de lidar com questões relacionadas na sua natureza, a linha de Lincoln, apoiado numa interpretação com inquestionável competência, neste caso de David Oyelowo (que também tinha aparecido nesse filme de 2012), e interessado em mostrar os bastidores das decisões políticas tomadas por todas as facções envolvidas. Nesse sentido, Selma perde alguns pontos por estereotipar certos intervenientes. MLK é o bom, Wallace é o mau e Johnson está dividido. O presidente tinha batalhado para assinar uma lei que desse aos afro-americanos o direito de voto e conseguido, um ano antes. Entre o programa espacial, a guerra do Vietname, a luta contra a pobreza e suceder a John F. Kennedy, não teve um calendário fácil. Já o governador, é historicamente reconhecido como um populista sem real convicção racista, como mais tarde admitiria. Tudo o resto são iscos para os Óscares, que funcionaram relativamente bem (muitos esperavam mais do que duas nomeações). Props para Oyelowo, a realização e a fotografia.

6/10

1 comentário:

  1. "Selma: A Marcha da Liberdade" é um filme demasiado longo, fazendo que se torne algo enfadonho e aborrecido. O filme é bom, é interessante e tem um bom elenco.
    Mas "Selma" torna-se algo cansativo de ver devido a ser enorme, contudo recomendo que o vejam.
    3*
    Pode ler e/ou comentar a análise completa em: http://osfilmesdefredericodaniel.blogspot.pt/2015/03/selma-marcha-da-liberdade.html
    Cumprimentos, Frederico Daniel.

    ResponderEliminar