Selma, a cidade no Alabama que
foi palco de uma das mais significativas acções de protesto contra o racismo
nos EUA e em prol da garantia de que a população afro-americana podia votar, dá
o nome a este filme onde Martin Luther King, a voz mais pacífica e poderosa do
movimento dos direitos civis nos anos 1960, tem de dividir protagonismo com
Oprah Winfrey, que parece ter aceitado colocar-se como produtora apenas se
tivesse um papel com o máximo de destaque e o mínimo de trabalho possível,
aparecendo proeminentemente quatro ou cinco vezes quase sem uma única fala, e
se recebesse uma nomeação aos Óscares nessa posição. A apresentadora tem todo o
direito de recuperar o seu lugar como actriz no cinema, onde foi revelada,
graças a Steven Spielberg, em The Color Purple, muito antes de oferecer carros
à audiência e patrocinar médicos dúbios no seu programa televisivo, contudo
também tem de perceber que, com isso, gerou para si mesma uma personalidade que
é difícil de dissociar em ficção e que distrai.
Mas, voltando atrás, MLK encontra
em Selma o cenário perfeito para espicaçar a consciência do mundo, em especial
do mundo branco, para a verdadeira dimensão da segregação no país, em especial
no sul. Sob o lema “negociar, protestar, resistir”, organiza uma marcha em
direcção à capital estadual, contando com a retaliação do xerife do condado Jim
Clark e do governador Geroge Wallace, que se opõem às mudanças sociais em
desenvolvimento. Depois de uma primeira tentativa, repelida ao fim de poucos
quilómetros por causa de um bloqueio policial violentíssimo na ponte Edmund
Pettus, registado e amplamente relatado pelos jornais e noticiários da altura,
e uma segunda, com ainda mais pessoas, pretos e brancos, a ser abortada pela
personagem principal no mesmo local, é apenas à terceira, algumas vítimas
depois e já com apoio legal, garantido pelo juiz do tribunal federal
distrital, que o destino é alcançado. Os eventos foram fundamentais para que o
presidente Lyndon B. Johnson aprovasse leis que inviabilizaram a descriminação
nas urnas.
Em geral, o argumento segue, para
além de lidar com questões relacionadas na sua natureza, a linha de Lincoln,
apoiado numa interpretação com inquestionável competência, neste caso de David
Oyelowo (que também tinha aparecido nesse filme de 2012), e interessado em
mostrar os bastidores das decisões políticas tomadas por todas as facções
envolvidas. Nesse sentido, Selma perde alguns pontos por estereotipar certos
intervenientes. MLK é o bom, Wallace é o mau e Johnson está dividido. O
presidente tinha batalhado para assinar uma lei que desse aos afro-americanos o
direito de voto e conseguido, um ano antes. Entre o programa espacial, a guerra
do Vietname, a luta contra a pobreza e suceder a John F. Kennedy, não teve um
calendário fácil. Já o governador, é historicamente reconhecido como um
populista sem real convicção racista, como mais tarde admitiria. Tudo o resto
são iscos para os Óscares, que funcionaram relativamente bem (muitos esperavam mais
do que duas nomeações). Props para Oyelowo, a realização e a fotografia.
6/10
"Selma: A Marcha da Liberdade" é um filme demasiado longo, fazendo que se torne algo enfadonho e aborrecido. O filme é bom, é interessante e tem um bom elenco.
ResponderEliminarMas "Selma" torna-se algo cansativo de ver devido a ser enorme, contudo recomendo que o vejam.
3*
Pode ler e/ou comentar a análise completa em: http://osfilmesdefredericodaniel.blogspot.pt/2015/03/selma-marcha-da-liberdade.html
Cumprimentos, Frederico Daniel.