Imaginem um filme de Ingmar Bergman com apenas duas cenas
dignas dessa designação, o triplo dos close-ups e uma banda sonora composta
maioritariamente por passagens simples de piano repetidas a um ritmo funerário
e o que mais parecem ser ecos de um sonar a espalharem-se pelo oceano. Stephen
Dwoskin não é bem conhecido pelo público em geral, aliás é um nome obscuro – o
que não é propriamente incompreensível, considerando experiências pouco
convencionais como esta. A sua abordagem minimalista não só é extrema como tem o
seu quê de frustrante, mesmo que seja bastante reveladora.
Death And Devil abre com uma montagem de longos minutos em
que uma jovem, Lisiska, esboça uma multitude de expressões faciais para a
câmara, divaga pela sua casa e prepara-se para sair, tudo filmado com uma
proximidade quase intimidadora. Eventualmente, assistimos a uma conversa deprimente
entre um homem e uma mulher mais velhos, cujos nomes são irrelevantes, sobre
desejo, perceções e deceções. Segue-se o encontro de Lisiska com outra
personagem masculina, com quem parece não ter nada para falar, e acabamos com
dezenas de minutos de análises extensivas dos rostos dos atores. Só.
Quer dizer, obviamente que há uma grande carga emocional
inerente. O estilo é radical, mas Dwoskin demonstra astúcia na interpretação da
infelicidade das duas mulheres retratadas, muito diferentes entre si - uma
bonita e despreocupada, outra com um ar pesado e pouca paciência para sentimentos
ou sexo -, e é-o especialmente quando se permite a fazer uso às palavras. A
grande diferença entre Lisiska e a outra senhora talvez seja que a primeira se
conforma quando é mal interpretada e a segunda contradiz quem quer que seja,
quando é necessário. Acima disso, está a forma como os homens veem o género
feminino, como interpretam erradamente o seu comportamento e como contribuem
para a distância que daí advém.
O filme passa-se todo na mesma casa, contudo as pessoas
estão sempre longe umas das outras, inclusive quando dialogam raramente
partilham o enquadramento. O trabalho de câmara é tão intrusivo e ansioso que
cativa e perturba em igual quantidade. Não há tanto interesse em mostrar
interação como em estabelecer intimidade. Objetivo conseguido, Death And Devil
não é nada acessível, mas é sufocante. Imaginem ir ao teatro, serem puxados da
audiência e colocados em palco a olhar diretamente para a cara de cada ator por
meia hora até ao fim da peça. Seria, sem dúvida, original. Se isso é suficiente enquanto objeto artístico é que fica ao critério de quem se aventura a aderir.
5/10
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