terça-feira, 25 de abril de 2017

Brick (Rian Johnson, 2005)

À primeira vista, Brick pode parecer só mais um drama de escola secundária, que é todo um subgénero do cinema americano, especialmente atraente para realizadores independentes, mas, lá está, as primeiras impressões costumam ser superficiais. A estreia de Rian Johnson é antes um film-noir disfarçado de drama de escola secundária. A história segue um adolescente que tenta perceber o paradeiro de uma ex-namorada, o que o arrasta para dentro de uma teia de tráfico de droga, estabelecida no meio dos colegas com que se cruza todos os dias, e para a companhia de outra rapariga, que pode ou não ter múltiplas intenções. Brendan (Joseph Gordon-Levitt) é como um detetive em alerta que, com o auxílio de um parceiro, tenta desvendar um mistério, um solitário que não receia levar pancada e tem sempre uma resposta pronta. Só faltam os cigarros que não se apagam e as rugas na testa para termos um Humphrey Bogart em The Big Sleep (Howard Hawks, 1946) ou The Maltese Falcon (John Huston, 1941).

Rian Johnson gere com calma a incerteza dos acontecimentos. Estamos a falar de uma mistela invulgar de géneros distantes e sem relação óbvia à partida, que aborda as descobertas da juventude de um ponto de vista diferente do habitual. O argumento vai apresentando personagens enigmáticas e novos desenvolvimentos, distorcendo lugares-comuns do ambiente escolar de formas criativas, como quando uma conversa muito tensa e elaborada é interrompida pela mãe de um dos intervenientes a oferecer refrescos aos rapazes de passagem por aquele lar.

A primeira imagem que temos é de Brendan a observar o corpo inanimado de uma loira numa vala. Os planos médios, secos e bem enquadrados, são evocativos. Gus Van Sant aprova de certeza, se vir Brick. À medida que vamos acompanhando a personagem principal na sua aventura, regressamos a um mundo fácil de associar a experiências típicas da vida pré-maioridade, desde as horas perdidas nas traseiras de pavilhões de aulas, às primeiras festas noturnas, passando pelas casas dos subúrbios; contudo, somos constantemente assaltados pela perceção cada vez mais acentuada de que algo está errado. Em breve, surgem chamadas anónimas intimidantes, brutamontes que partem para a agressão sem pré-aviso e raparigas irresistíveis, aprendizes de femme fatale, Ritas Hayworths em miniatura. Para além de manter uma atmosfera muito própria, com os seus tons pastel e a sua banda sonora feita a partir de copos a tilintar, Brick é bom entretenimento, um número original de malabarismo com a memória de tempos idos e o negrume de filmes de outros tempos.

8/10

Sem comentários:

Enviar um comentário