À primeira vista, Brick pode parecer só mais um drama de
escola secundária, que é todo um subgénero do cinema americano, especialmente
atraente para realizadores independentes, mas, lá está, as primeiras impressões
costumam ser superficiais. A estreia de Rian Johnson é antes um film-noir
disfarçado de drama de escola secundária. A história segue um adolescente que
tenta perceber o paradeiro de uma ex-namorada, o que o arrasta para dentro de
uma teia de tráfico de droga, estabelecida no meio dos colegas com que se cruza
todos os dias, e para a companhia de outra rapariga, que pode ou não ter
múltiplas intenções. Brendan (Joseph Gordon-Levitt) é como um detetive em
alerta que, com o auxílio de um parceiro, tenta desvendar um mistério, um
solitário que não receia levar pancada e tem sempre uma resposta pronta. Só
faltam os cigarros que não se apagam e as rugas na testa para termos um
Humphrey Bogart em The Big Sleep (Howard Hawks, 1946) ou The Maltese Falcon
(John Huston, 1941).
Rian Johnson gere com calma a incerteza dos acontecimentos.
Estamos a falar de uma mistela invulgar de géneros distantes e sem relação
óbvia à partida, que aborda as descobertas da juventude de um ponto de vista
diferente do habitual. O argumento vai apresentando personagens enigmáticas e
novos desenvolvimentos, distorcendo lugares-comuns do ambiente escolar de
formas criativas, como quando uma conversa muito tensa e elaborada é
interrompida pela mãe de um dos intervenientes a oferecer refrescos aos rapazes
de passagem por aquele lar.
A primeira imagem que temos é de Brendan a observar o corpo
inanimado de uma loira numa vala. Os planos médios, secos e bem enquadrados,
são evocativos. Gus Van Sant aprova de certeza, se vir Brick. À medida que
vamos acompanhando a personagem principal na sua aventura, regressamos a um
mundo fácil de associar a experiências típicas da vida pré-maioridade, desde as
horas perdidas nas traseiras de pavilhões de aulas, às primeiras festas noturnas,
passando pelas casas dos subúrbios; contudo, somos constantemente assaltados
pela perceção cada vez mais acentuada de que algo está errado. Em breve, surgem
chamadas anónimas intimidantes, brutamontes que partem para a agressão sem
pré-aviso e raparigas irresistíveis, aprendizes de femme fatale, Ritas
Hayworths em miniatura. Para além de manter uma atmosfera muito própria, com os
seus tons pastel e a sua banda sonora feita a partir de copos a tilintar, Brick
é bom entretenimento, um número original de malabarismo com a memória de tempos
idos e o negrume de filmes de outros tempos.
8/10
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