domingo, 30 de abril de 2017

Killer's Kiss (Stanley Kubrick, 1955)

Aos 26 anos, Stanley Kubrick avançava para a sua segunda longa-metragem, ainda sem metade que fosse da fama que viria a alcançar e dos orçamentos de que viria a dispor. Como tal, Killer’s Kiss é uma obra menos polida, onde faltam ainda muitas das características técnicas que viriam a demarcar a filmografia deste realizador dos restantes colegas. Distancia-se já do amadorismo de Fear And Desire (a estreia que o próprio Kubrick repudiava ao ponto de ter tentado retirar de circulação) mas serve apenas como aperitivo para o prato maior que é The Killing.

Neste film-noir sobre um pugilista que se envolve com a vizinha dançarina, esta demasiado presa ao seu violento patrão, o que mais impressiona é a estrutura. Com uma facilidade impressionante, o filme avança por flashbacks dentro de um flashback mais abrangente sem nunca perder o fio à meada. Logo na cena inicial, o pugilista Davy Gordon (Jamie Smith) espera uma mulher na estação de comboios. Virá ter com ele? Recuamos para ver como tudo começa, voltamos a recuar para saber mais sobre o passado dela, mas só no fim poderemos ter a resposta à pergunta inicial.

Apesar de alguns momentos lentos e diálogos pouco convincentes, há cenas cativantes, nomeadamente quando o filme se torna mais visual. Destaco a perseguição em corrida por zonas industriais e tácitas de Nova Iorque, entre prédios abandonados e telhados altaneiros, até uma fábrica de manequins, onde os dois homens em disputa pela atenção de Gloria (Irene Kane) se digladiam até à morte de um deles. Tudo isto fica a anos-luz de A Clockwork Orange e restantes, mas se estivéssemos em 1955 poderíamos registar boas indicações, elementos transgressivos e a vontade de mostrar algo diferente.

Kubrick fez treze filmes na sua carreira. No documentário A Life In Pictures, realizado pelo irmão da sua última mulher, ouve-se alguém dizer que ele não tinha prazer em ser tão lento a trabalhar, simplesmente acontecia. Talvez por isso tenha concretizado alguns dos filmes mais rendilhados e rigorosos de sempre. Quem quiser completar a carreira de um dos nova-iorquinos mais famosos do cinema terá de passar por este Killer’s Kiss, de preferência sem grandes expectativas, mas também não será nenhum sacrifício, pelo contrário, é uma curiosidade com valor.

6/10

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