Mother And Son é um filme que,
pela estética naturalista, pelo ritmo moroso e pelas passagens filosóficas sobre
a condição humana, pouco oferece que possa rebater as frequentes comparações
que se fazem entre Sokurov e Tarkovsky. É verdade que Sokurov já abordou, na
sua longa filmografia, vários temas e já alterou a sua execução vezes
suficientes para poder ser considerado um original e reputado autor por mérito
próprio, mas há a noção de que, espaçadamente, presta vassalagem ao seu mestre
de formas mais ou menos óbvias. Bem, quando a qualidade do trabalho acaba por
ser tão elevada como é em Russian Ark (em que Sokurov eleva ao paroxismo as
ideias de Tarkovsky sobre o controlo da passagem do tempo e da transição entre
espaços abusando do plano-sequência num filme sem cortes, dentro de um museu em
que cada sala nos remete para um período diferente da história da Rússia) ou
como é neste Mother And Son só se pode mesmo louvar as suas tentativas.
Como ponto de partida, temos um
filho a cuidar da sua mãe moribunda numa casa de campo perdida algures numa
paisagem bucólica e húmida. Vemos que o seu dia-a-dia se resume a passeios
longos pela floresta que os rodeia, a sestas constantes, a ver o tempo passar
com uma lassidão com o seu quê de nostálgica, a recordar o passado e à espera do
fim, da morte da mãe. O filme não pretende propriamente chegar a lado nenhum,
apenas transmitir um sentimento do mais profundo e silencioso pesar, dor pela
perda que se aproxima, e é difícil não ser contagiado por essa espécie de
miasma, pela forma tão etérea com que explora a mortalidade. É na construção
dessa atmosfera e de imagens extremamente delicadas que vemos quem é a grande referência
de Sokurov.
Talvez se possa dizer que é um
filme mais negro que os de Tarkovsky. Sim, aqui não há grandes dúvidas quanto
ao destino ou quanto à sanidade das personagens como em Offret, não há o fascínio pelos atos que
transcendem a nossa natureza e escapam a qualquer explicação, como aquela
espécie de telepatia no fim de Stalker e a que vulgarmente classificamos como
milagres, não, aqui há claustrofobia, há remorsos, há morte, mas tudo isso é
pura poesia, a morte é assustadora, mas é tão merecedora dos mais belos filtros
de câmara (usando vidro, espelhos e tinta, Sokurov altera, comprime as imagens em várias
direções, como se a pressão da situação que a mãe e o filho estão a viver fosse
tal que o próprio mundo que os rodeia é afetado) e dos mais belos enquadramentos
possíveis, especialmente em atos inevitáveis de grande ternura. Por isso, Mother And Son é uma
experiência arrebatadora. Assim, simples, evocativo e sem enredo. Por isso,
Mother And Son é Tarkovsky. Mas, não sejamos injustos, é, acima de tudo,
Sokurov.
9/10