Quando Edward G. Robinson é
mencionado, automaticamente vêm à memória gangsters imperscrutáveis e homens
honestos arrastados para espirais de crime e mentira, ou seja, estamos a falar
de uma figura que não só marcou o film-noir como excedeu os limites da
versatilidade no género, pois foi capaz de interpretar com igual qualidade
papéis de naturezas antagónicas, uns secundários, outros principais.
O isco que me puxou até The Red
House foi vê-lo num ambiente campestre a fazer de agricultor, muito longe do
fumo dos charutos, da noite urbana e das femme fatale de Double Indemnity, Key
Largo ou The Woman In The Window. Apenas a lengalenga dum passado que não
desaparece e volta para assombrar o presente pode remeter para esses cenários,
todo o resto tem um sabor diferente.
Este thriller rural começa com
uma introdução narrada algo condescendente, que não deixa de transmitir uma paz
de espírito que, claro, será corrompida pela história. Também somos
apresentados ao casalinho adolescente Meg e Nath, que começam como apenas
colegas de turma, até porque o segundo já tem uma namorada que dá bastante
trabalho.
Trabalho, num sentido mais
literal, é o que o jovem procura junto do pai adoptivo de Meg, que precisa de
ajuda na quinta, especialmente tendo em conta que uma das suas pernas é uma
prótese de madeira e que a idade já não perdoa. Pete parece bastante afável e
cordial, até Nath decidir andar pelo bosque contíguo, primeiro como atalho,
depois por curiosidade.
O velho tenta um pouco de tudo
para afastar quem quer que seja do extenso arvoredo, vocifera maldições
infundadas, faz ameaças e chega a manter um guarda com demasiada vontade de
disparar a sua espingarda. Claro que tudo isto motiva ainda mais uma
adolescente para fazer o que não deve, por muito bem-educada e submissa que
seja. Conversas sobre uma casa vermelha abandonada atraem Meg e Nath ainda
mais.
À medida que a desobediência da
rapariga cresce, também a memória de um crime que ficou por resolver se
agiganta e degrada a saúde mental de Pete. A presença de Edward G. Robinson é
das mais ambíguas da história do cinema – quem espera que as feições e a baixa
estatura, adequadas a um avô amável e calmo, possam esconder impulsos
assustadores? Quando ele arregala os olhos, tudo passa a estar em dúvida.
Quando vemos a tal casa pela
primeira vez temos a impressão de que não pode ser doutra cor para além de
vermelho, apesar da fotografia a preto-e-branco. A ventania do planalto e o
tema de Miklos Rosza assaltam os ouvidos. The Red House é surpreendente? Nem
por isso, mas é eficaz a jogar com os sentidos e tem argumentos suficientes
para merecer maior destaque do que costuma ter.
8/10
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